sábado, 13 de abril de 2019

GLOBALIZAÇÃO


As desigualdades sociais e a cidade global

Muitos são os problemas enfrentados pelas cidades globais. Sejam elas dos países desenvolvidos ou dos em desenvolvimento. Nenhum dos aspectos pode caracterizar melhor esse fato do que as desigualdades sociais tão evidentes dentro da cidade global As cidades globais dos países em desenvolvimento enfrentam problemas de todas as ordens e natureza.
Um dos problemas mais graves enfrentados pelas cidades globais tem sido o desemprego. O que verificamos é que os setores de serviços financeiros, marketing, alta tecnologia, estão colhendo lucros bem maiores do que jamais renderam os setores econômicos tradicionais. Assim, com a escalada contínua dos salários e das bonificações das áreas mais especializadas das camadas mais ricas, caem os salários dos trabalhadores empregados em serviços considerados de segunda categoria – segurança, limpeza, secretaria. O que testemunhamos é a valorização do trabalho que está na vanguarda da nova economia global e a crescente desvalorização do trabalho que se desenrola atrás dos bastidores. Essa situação se agrava mais ainda nos países em desenvolvimento.
A partir de uma entrevista feita com o geógrafo Milton Santos, em 4 de janeiro de 2001, é discutido o tema da globalização e seus efeitos nos países em desenvolvimento. Neste documentário, Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá, dirigido por Silvio Tendler, Santos reflete sobre as contradições do processo de globalização que considera uma globalização perversa e propõe uma outra globalização. O cineasta entrevista um conjunto de intelectuais e estudiosos que conhecem o pensamento de Santos como, Paul Claval, Maria Adélia Aparecida de Souza, Roberto Lobato Corrêa, Manoel Correia de Andrade, Carlos Walter Porto-Gonçalves. O documentário nos ajuda a pensar os aspectos e singularidades da globalização no Brasil e no mundo.

Texto complementar
Milton Santos
A globalização pretende ser homogeneizadora, como presença obrigatória em todos os continentes e lugares. E a promessa de construção de um mundo só estaria incluída nesse movimento. Todavia, tal pretensão até agora apenas renova disparidades e cria novas desigualdades, o que é devido à violência dos seus processos fundadores, todos praticamente indiferentes às realidades locais. A aplicação brutal de princípios gerais a situações tão diversas é criadora de desordem. Por isso mesmo, a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas.
Segundo as condições preexistentes nos países ou como resultado da forma como estes se dispuseram a participar do novo período histórico, os territórios e as populações conhecem uma variedade de impactos, características de sua situação atual. Há, desse modo, países mais ou menos sensíveis ou mais ou menos infensos aos resultados do processo globalitário.
Este representa uma vontade arrebatadora de dominar o mundo, para afeiçoá-lo à sua imagem, mas as consequências variam segundo as condições locais de adaptação à nova ordem e o próprio interesse das nações hegemônicas.
O caso do Brasil é típico. Trata-se de um país cujas elites são caracterizadas por um gosto ancestral pelas modernidades. Sua história é uma sucessão de aberturas, nem sempre confessadas, mas que redundam num processo de imitação, às vezes grotesco, mas considerado moderno. Para isso contribui de modo marcante a força das mencionadas elites na formulação do que se pode chamar de um retrato do Brasil; e até mesmo uma boa parte das elites intelectuais parece haver renunciado à constituição de uma ciência própria, contente de ir buscar lá fora aprovação e legitimação para suas práticas intelectuais. Com a emergência e expansão das classes médias ainda mais água foi levada a esse moinho, movimento para o qual o papel amolecedor do consumo foi determinante.
Outro problema enfrentado pelas cidades globais é o déficit habitacional. Quanto mais essas cidades se sofisticam mais crescem as contradições no espaço urbano. Os mais prejudicados são os trabalhadores de baixa renda, que não podendo arcar com aluguéis e nem prestações de imóveis altos, investem seus parcos recursos em imóveis na periferia da cidade. Grande parte dessas áreas sofrem com a escassez de serviços urbanos básicos.
As políticas públicas investem quase sempre no centro das cidades e nas áreas mais valorizadas das cidades globais, para as áreas marginalizadas sobram poucos recursos. A maior parte dessas pessoas não vive no que normalmente entendemos por cidades, mas em imensos subúrbios sem infraestrutura e serviços, os quais escapam a qualquer conceituação tradicional.
Recentemente, esse país já aberto deu sinais de querer abrir-se todo, a abertura sendo a principal palavra de ordem na economia, na cultura e na política. Os postulados essenciais da política econômica e até mesmo da política social são importados como um pacote fechado. É dessa forma que o Brasil se torna paralelamente um país desarmado; e, o que é pior, desarmado de dentro. E isso implica a falta de apetite para uma discussão mais aprofundada das opções que poderia seguir. Foi assim que a nação, tornada indefesa por suas próprias mãos, tornou-se uma presa fácil para tudo o que foi sugerido de fora, sem outra consideração que a obediência a esse credo. Entre os próprios bolsões de resistência, as demissões foram se dando cada vez mais numerosas, inclusive nas elites intelectuais cujo dever, entretanto, seria o de pensar criticamente as novas situações, de modo a oferecer visões diferentes e apontar as opções cabíveis. É significativo assinalar que entre as mencionadas elites intelectuais rareou a busca de interpretações globalizantes do país, ampliou-se o desinteresse pela questão nacional e, num plano mais alto, reduziu-se o debate sobre a própria questão civilizatória. Tudo isso, ajudado pelo papel da propaganda, da moda e da mídia, acaba por ter um papel claramente deformador na formação da consciência das gerações montantes, ao mesmo tempo em que as diferentes manifestações de cidadania se tornam ainda mais difusas e débeis.
Esse conjunto de circunstâncias explica a relativa demora da opinião pública para se aperceber dos malfeitos da globalização perversa e, em consequência, elaborar um conjunto coerente de ideias e interpretações da nova realidade nacional, de modo a influir eficazmente na vida política mediante a influência que possam ter sobre a doutrina e a prática dos partidos.
Agora, finalmente, parece que a nação acorda, ainda aturdida pelo pesadelo em que vive. É auspicioso constatar que ela está dando mostras de estar chegando a um limite quanto à aceitação da situação que se criou com a aceitação sem peias do processo de globalização. Falta, sem dúvida, que as manifestações de violência ou revolta, de inconformidade ou de desconforto que atingem a maioria da população, parem de ser aceitas e tratadas como fatos isolados e que se reconheça a vida sistêmica de todos esses males e de todas essas reações aparentemente excepcionais. Dessa forma, ver-se-á que a sua existência é devida aos efeitos da globalização perversa, que a atual política econômica insiste em preservar. Será a partir desse marco que os movimentos sociais poderão ser reestruturados e que a vida partidária poderá obter um novo elo, de modo tal que a atividade política possa dar maior atenção aos interesses da nação e ao bem-estar das classes populares.
Fonte: http://pessoal.educacional.com.br/up/4770001/1306260/t1311.asp. Acesso em: 20 de dez 2009.


Visando amenizar as contradições, os planejadores/empreendedores urbanos convertem a rua – que um dia foi vital para o pedestre – em via de trânsito rápido e contínuo e transformam parques e praças públicas em áreas estéreis ou em receptáculo temporário de moradores de rua. A cidade global possui várias centralidades, umas das mais importantes, além do Centro, são os mega-shopping centers que, quase sempre, localizam-se nas áreas mais valorizadas da cidade global. O shopping se transformou no espaço de compras e consumo onde o citadino busca resolver suas angústias existenciais e se sente seguro diante das câmeras do policiamento privado.

Governando as cidades globais

A cidade moderna convive hoje com duas realidades que causam profundas transformações no seu conteúdo e forma. Assim como a globalização, a urbanização também produz contradições. Seus efeitos sobre a cidade tanto podem ser criativos como destrutivos. Por um lado, estimula a concentração de pessoas, mercadorias, serviços, ideais e oportunidades. Por outro, fragmenta o espaço urbano, enfraquece a coesão entre os lugares, as tradições e as redes de relações.
A urbanização também estimula o individualismo, as neuroses urbanas e a violência. Quanto mais complexa a realidade urbana maiores são as possibilidades de se desenvolver determinadas neuroses urbanas. A violência urbana é o mal que assola as comunidades que vivem em centros urbanos. Abrange toda e qualquer ação que atinge as leis, a ordem pública e as pessoas. Muitas são as causas da violência. A principal delas é a exacerbação das desigualdades sociais que se expressam na paisagem urbana das cidades globais.
O desemprego, os baixos salários, a falta de acesso a educação, saúde e segurança, são apenas alguns serviços de que carece grande parte da população urbana. Ao mesmo tempo em que a globalização agrava os problemas enfrentados por cidades do mundo inteiro, ela também proporciona espaço para que as cidades se tornem lugares de produtividade e competitividade. As cidades globais nas últimas décadas ganharam uma importância nunca vista à medida que os estados-nações têm cada vez menos condições de administrar as tendências globais. Por outro lado, os estados-nações continuam grandes demais para lidar com questões das áreas urbanas cosmopolita, questões de natureza local.
Nesse sentido, o papel das cidades enquanto agentes políticos e econômicos só tende a crescer. Os administradores municipais hoje conseguem lidar melhor com os efeitos da globalização. As cidades, em função da sua estrutura de comunicação e transporte podem contribuir mais para a produção de riqueza, promover a integração sociais e cultural e servir como base e foro de acesso para a atividade política. Nos últimos anos os prefeitos estão assumindo responsabilidade em âmbito político de grande importância, visando cumprir a agenda urbana, que tem se tornado cada dia maior.
Assim, com o progresso da globalização, é provável que o papel das cidades se amplie ainda mais nas próximas décadas. Muitos dos problemas enfrentados pelas grandes cidades globais estão, na realidade, vinculados a questões internacionais, como os problemas ambientais, a tecnologia de informação, a integração econômica, a migração e o comércio.

Resumo
Nesta aula, vimos como o processo de globalização afeta o conteúdo e a forma das cidades globais. A globalização não é apenas um fenômeno econômico, mas, sobretudo, cultural que afeta as populações nos seus lugares de moradia. Esse um processo complexo e muitas vezes difícil de se compreender, tendo-se em vista as várias relações que se estabelecem no âmbito do espaço urbano, está na ordem do dia dos cientistas sociais. Nas últimas décadas as cidades globais adquiriram uma grande importância. Grande parte da economia mundial passa por essas cidades Elas, através da participação das empresas transnacionais, determinam as condições econômicas dos circuitos globais. Ao mesmo tempo em que a globalização traz desenvolvimento econômico e social, ela (globalização), também, contribui para aprofundar as diferenças sociais nas cidades. Hoje essas cidades lidam com grandes contingentes populacionais, com o desemprego em massa, com os problemas ambientais, com o déficit habitacional e com a violência urbana.
Os prefeitos e administradores urbanos, através dos urbanistas e empreendedores, tentam através de seus planos estratégicos amenizar os problemas urbanos. No entanto, o que temos observado é a exacerbação das contradições urbanas e o fortalecimento dos governos locais, que buscam formas de investir nas cidades, visando amenizar o desemprego e as contradições aí existentes.

SILVA, Regina Celly Nogueira e MACÊDO, Celênia de Souto. Geografia Urbana. Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Estadual da Paraíba. Programa Universidade a Distância.

ATIVIDADE AVALIATIVA 8-2019

- Por que Milton Santos afirma que a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas?
Porque ela acentua as disparidades econômicas e sociais tanto entre países como entre as empresas e as pessoas. Ela tem gerado alta concentração financeira e acentuado avanço tecnológico entre os mais ricos e, por outro lado, acentuado a pobreza, a estagnação economia e o atraso tecnológico dos países, empresas e pessoas pobres. A maioria destes últimos encontram-se endividados e submetidos à condição de fornecedores de produtos primários, serviços de baixa qualificação e mercado de consumo de bens de alta tecnologia dos mais avançados.
- Para Milton Santos, qual o papel dos movimentos sociais em um mundo globalizado?
O papel dos movimentos sociais na luta pelos direitos é de denúncia e enfrentamento das imposições que se fizeram sobre os países e especialmente sobre a maioria de sua população que só acentuam as disparidades ao invés da equidade entre as diversas camadas da população. Mostrar que os fatos que se sucedem (desemprego, carestia, perda de garantias, marginalização) não são isolados, mas fazem parte de uma globalização voltada para os interesses das classes e países dominantes.
- O que Milton Santos quer dizer quando se refere a globalização como globalização perversa?
A globalização pretende ser homogeneizadora, como presença obrigatória em todos os continentes e lugares. E a promessa de construção de um mundo só estaria incluída nesse movimento. Todavia, tal pretensão até agora apenas renova disparidades e cria novas desigualdades, o que é devido à violência dos seus processos fundadores, todos praticamente indiferentes às realidades locais. A aplicação brutal de princípios gerais a situações tão diversas é criadora de desordem. Por isso mesmo, a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas.

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