quarta-feira, 26 de junho de 2019

BREVE HISTÓRIA DO URBANISMO


Breve História do Urbanismo
Solange Irene Smolarek Dias
1 INTRODUÇÃO
O termo “urbanismo” é um neologismo inventado há mais de um século. Este significado designa uma realidade específica: o surgimento no final do séc. XIX de uma nova disciplina que se apresenta como uma ciência e uma teoria da cidade “distinguindo-se das artes urbanas anteriores pelo seu caráter reflexivo e crítico e pela sua pretensão científica”.
O termo “urbanismo” passou a englobar uma grande parte do que diz respeito a cidade, obras públicas, morfologia urbana, planos urbanos, práticas sociais e pensamento urbano, legislação e direito relativo a cidade.
O pensamento urbanístico moderno, é uma criação específica do espírito ocidental. É portanto essencial reconstituir a evolução do urbanismo ocidental, no final do qual nascerá o urbanismo moderno.
Há duas fontes intelectuais do urbanismo moderno, ambas da Renascença. A primeira é a De re Aedificatoria, de Alberti, que procura conceituar de maneira definitiva as regras racionais que propiciam uma criação harmoniosa, tanto de uma casa quanto de uma cidade. A segunda é A Utopia, de More, primeiro modelo espacial e ideológico completo de uma realidade futura.
Antes da afirmação de um discurso teórico autônomo que pretende fundar sob seu único domínio a realidade urbana, desenvolve-se no Ocidente uma longa fase preparatória. É só de maneira progressiva que uma parte da humanidade se distancia de uma visão do espaço urbano condicionada pela religião, pelo sagrado, por práticas e representações sociais que por sua vez está em conformidade com uma determinada concepção de mundo.
A antiguidade greco-romana contribui para amenizar os laços de dependência que ligam a religião à organização do espaço constituído. Na Idade Média, embora toda a sociedade esteja imersa num ambiente profundamente religioso, são as autoridades leigas que procuram estabelecer um domínio no espaço urbano. A partir da Renascença, os fundamentos urbanísticos autônomos se encontram colocados, mas a ruptura com o passado não está de fato consumada. Se a razão se impõe cada vez mais, a utopia está presente ainda nas portas das cidades.
É a Revolução Industrial que engendra o urbanismo moderno, provocando uma rejeição efetiva das concepções tradicionais da cidade e utilizando como recurso a utopia.
2 O URBANISMO DA ERA INDUSTRIAL - A Evolução Urbana nos Séculos XIX e XX
Se a população mundial aumenta prodigiosamente nos últimos dois séculos, o crescimento da população vivendo nas cidades é mais rápido ainda. Enquanto a população mundial quadruplica após 1850, a população urbana se multiplica por dez. Este grande inchaço é consequência dos progressos técnicos e científicos realizados a partir da metade do séc. XVIII.
É a Europa ocidental que desencadeia o processo, logo seguida e posteriormente ultrapassada pelos Estados Unidos
Nos países onde ocorre o progresso técnico, o aumento da produtividade do trabalho acarreta um aumento da produção global, o que possibilita o crescimento demográfico e a elevação do nível de vida.
Paralelamente, a estrutura da população ativa se transforma. Enquanto no início do séc. XIX todas as nações ocupam 80% de sua população no setor primário (agricultura), 8% no secundário (indústria) e 12% no terciário (serviços), assiste-se nos países industrializados a uma verdadeira fundição do primário em benefício do secundário e do terciário. Posteriormente, em função de um novo progresso da produtividade na indústria, o secundário diminui por sua vez em benefício do terciário, que é o grande beneficiário do desenvolvimento econômico. Assim, nos países desenvolvidos, um número restrito de agricultores (5 a 10%) é suficiente para alimentar o conjunto de habitantes. Ora, eles são 80% dois séculos antes. Isso significa que todos os excedentes, que exploram as terras menos rentáveis, são obrigados a partir. O êxodo rural transforma-os, mesmo a contragosto, em citadinos. O despovoamento do campo acarreta o aumento da população nas cidades.
A Gênese do Urbanismo Moderno
A Revolução Industrial, que nasce na Inglaterra, lança toda uma população operária nas cidades, que não estão preparadas para acolhê-las. Resulta uma proliferação de cortiços. As famílias operárias amontoam-se em locais estreitos e sem conforto em Lille, Liverpool e Manchester. Aos olhos dos contemporâneos, é toda a cidade que está doente. Balsac classifica Paris de “cancro“. Médicos, filantropos, sociólogos, economistas, romancistas, diante das epidemias e da delinquência, veem aí os frutos envenenados dos cortiços, as infeções de uma cidade má, acusada de corromper a raça humana, de destilar o vício e o crime.
Uma série de pensadores repudia a noção tradicional de cidade e elabora modelos que permitem reencontrar uma ordem perturbada pelo maquinismo. É desta pesquisa que nasce a principal corrente do urbanismo moderno, a corrente progressista.
A Corrente Progressista
Baseia-se numa concepção abstrata do homem, indivíduo mutável no tempo e no espaço. A ciência deve portanto permitir a definição exata de um modelo urbano perfeito que convenha a todo grupo humano.
Desde 1901 o arquiteto Tony Garnier elabora um plano da cidade industrial, onde se encontra quase tudo o que está na base do urbanismo atual. Os “arquitetos racionalistas” constituem, a partir de 1928 um movimento internacional (CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna). Em 1933 os arquitetos do CIAM elaboram um manifesto doutrinal: “A Carta de Atenas”. Verdadeiro catecismo do urbanismo progressista, este documento teve muitas ideias de Le Corbousier.
O urbanismo progressista é obcecado pela modernidade. A cidade do séc. X devia ser de seu tempo, afirmar a contemporaneidade de tudo aquilo que se traduz como o avanço da técnica: a indústria, o automóvel, o avião.
Há uma preocupação desvairada pela higiene, que se concretiza nas exigências de sol e verde.
A Carta de Atenas exige construções altas, afastadas umas das outras, isoladas no verde e na luz. Um outro teorema do urbanismo progressista é a abolição da rua, denunciada como anacrônica, barulhenta, perigosa, contrária aos imperativos de luminosidade e higiene. A Carta de Atenas exige que os imóveis sejam implantados longe dos fluxos de circulação.
O modelo progressista fundamenta-se na análise das funções urbanas acompanhadas de zoneamento: habitação, trabalho, lazer. A circulação é concebida como uma função distinta, independente em relação às edificações, com diferenciação de vias segundo velocidades.
O esquema urbano é concebido para o homem-padrão. Em qualquer lugar do mundo. Tanto para as grandes como para as pequenas cidades. Qualquer que seja o regime político ou o nível de desenvolvimento econômico. Deste volume de realizações surgem Chandigarh, a partir dos planos de Le Corbousier e Brasília, com planos de Niemeyer. Encomendados pelos presidentes Neru e Juscelino, respectivamente, constituem grandiosas manifestações do urbanismo e da estética progressistas.
Edifícios públicos gigantescos que dominam imensos espaços vazios constituem uma escultura urbana de inspiração cubista, à base de volumes geométricos simples. Em Brasília os bairros habitacionais não diferem muito dos conjuntos habitacionais de Singapura, Paris e Moscou.
As Dificuldades: O Urbanismo Contra a Cidade.
O modelo urbanístico dominante é hoje amplamente contestado. Paralelamente, a cidade saída do passado, contra a qual foram dirigidas as ironias e as ofensas do urbanismo progressista, é objeto de uma reabilitação que felizmente não é sempre póstuma.
Um urbanismo desumano. Esta é a principal crítica endereçada atualmente ao modelo dominante. Ë forçoso constatar essa recusa pelo usuário das cidades modernas e do sistema de valores que lhes é subjacente. Cada vez mais nossa sociedade recusa as caixas de habitação e o concreto que invade e que agride a cidade antiga e desnatura os espaços rurais.
Contudo, isto de certa forma é inevitável, devido a evolução econômica e demográfica. No pós guerra, na Europa, é necessário construir abundantemente em função das destruições, do crescimento demográfico e do êxodo rural que acompanhava o crescimento econômico e o progresso social. Volta-se para uma produção maciça de habitações sociais. Os grandes conjuntos habitacionais proliferam-se. Esse urbanismo, embora sob certo ponto de vista insatisfatório, ao menos assegura à grande massa da população o benefício das principais conquistas da técnica moderna tanto no sanitário quanto no econômico. Ë um grande resultado. Mas poder-se-ia ter adotado fórmulas de habitat mais humanas.
O emprego do concreto e de outros materiais modernos é inevitável. Jamais se construirá como no passado, em nome do qual nos regozijamos ou não. Os materiais e as técnicas modernas permitem um grande aumento da produtividade: a construção necessita de bem menos horas de trabalho humano que outrora. No mais, o metal e o concreto armado permitem alturas e cargas impossíveis para a pedra e a madeira. Esse aumento da produtividade é algo excelente, pois o trabalho humano é caro nas sociedades industriais, mesmo quando é pouco produtivo.
Se a produtividade na construção não tivesse aumentado nos últimos cem anos, não se pagaria aos operários como se paga atualmente. E, como o número de horas de trabalho necessárias para um dado edifício teria permanecido bastante elevado, a construção seria bem mais cara: viveríamos cinco em cada cômodo. Para subsistir nas sociedades industriais, a atividade da construção exige uma produtividade o mais alta possível. Esse imperativo proíbe praticamente em nossos dias o emprego de material tradicional, desuniforme, lento para separar, trabalhar e colocar no devido lugar.
A civilização dos cortadores de pedra e dos montadores de belos telhados está praticamente morta. Nós somos uma triste civilização de empilhadores de tijolos furados, de concreto de estruturas metálicas. Tal é o prêmio técnico, da nossa vida materialmente fácil e da nossa habitação decente.
Tudo isso está unido de maneira indissociável, e ninguém pode fazer nada, não mais os urbanistas e os arquitetos que o comum dos mortais. Não é o emprego do concreto que se deve censurar no urbanista progressista, mas o fato de ter erigido como dogma a superioridade estética intrínseca do concreto.
Sobretudo a grande culpabilidade do urbanismo progressista é de apresentar a cidade futurista, com seus imóveis coletivos gigantes, formigueiros extremamente confortáveis com inúmeras células habitacionais, como o lugar da felicidade perdida. De modo que quando chega a hora de construir bastante e depressa, arquitetos e urbanistas, impregnados da ideologia progressista, julgam normal e desejável a realização de grandes conjuntos. O grande pecado do urbanismo progressista é ter imposto o ideal não confesso de um universo kafkiano, à base de espaços desestruturados e de gigantescas “máquinas de habitar”, para homens-máquina.
De Volta a Uma Concepção Mais Tradicional da Cidade
A cidade volta a ser moda, a cidade verdadeira, com ruas de pedestres, lojas, oficinas. Desde 1961, a socióloga americana Jane Jacobs, analisando os prejuízos do urbanismo e da renovação urbana nos Estados Unidos, mostra que o abandono da rua acarreta o desaparecimento das principais vantagens da vida urbana: segurança, contato, formação das crianças, diversidade das relações. Ela acrescenta que a estrita aplicação do princípio do zoneamento esvazia durante o dia os bairros habitacionais: reina então um sentimento de tédio que reforça a padronização da arquitetura.
Quanto aos espaços verdes e terrenos circunvizinhos destinados a jogos nos conjuntos habitacionais, eles favorecem a delinquência de grupos adolescentes: lá eles encontram um espaço mais favorável que a rua para seus delitos, pois eliminam a vigilância dos adultos. J. Jacobs observa que nos bairros sem atração para o público, os parques não fazem mais que acentuar “o tédio, a insegurança e o vazio”. Para ela, o essencial é refazer as ruas, que ela deseja vivas, animadas, comerciais, locais de sociabilidade e de segurança. Suas ideias inspiram parcialmente a reordenação do centro de grandes cidades como Boston e Filadélfia.
Sociólogos e psiquiatras constatam que um bairro considerado deteriorado e insalubre pode revelar-se muito mais sadio socialmente do que um bairro renovado pelos urbanistas; é o que testemunham as estatísticas relativas aos distúrbios mentais, ao alcoolismo e à delinquência.
A abolição da rua e sua substituição por grandes espaços vazios se traduzem por uma certa desintegração mental dos habitantes, enquanto que uma forte estruturação do tecido urbano é, ao contrário, acompanhada de uma forte estruturação psíquica dos habitantes.
O modelo urbano progressista, com seus grandes conjuntos habitacionais e seus espaços livres pode, portanto, revelar-se favorável ao desenvolvimento da imoralidade. Se os bairros recentes respondem aos imperativos da higiene e da salubridade física, sua arquitetura e seu espaço desestruturado podem ser fonte de angústia, escondendo uma certa insalubridade psíquica.
A ideia de refazer as ruas ganha terreno a cada dia. “A cidade readquiriu coragem e passou a lutar. Fala-se novamente das ruas. Fala-se da vida citadina”. Mas isso supõe tornar bastante flexível as regras do zoneamento, que dissociam a função da habitação das demais funções urbanas. Senão, realizam-se somente ruas mortas de cidades-dormitórios. E antes mesmo de dar vida às ruas a tarefa mais urgente consiste em interromper a destruição das ruas existentes. Elas constituem um capital urbano que nos coloca na incapacidade de substituir por qualquer coisa da mesma qualidade.
Um Problema sem Solução: O Gigantismo Urbano
Poucos temas têm tanta repercussão em nossa época como o dos aspectos negativos das megalópoles; caráter inviável da grande cidade, problemas de circulação e de abastecimento, esgotamento nervoso dos habitantes, poluição, etc.
De fato, as grandes aglomerações urbanas gigantes do século X não possuem mais nada daquilo que no passado chamava-se cidade. Enquanto cidades como Nova Iorque, Londres ou Paris expandem-se na escala de uma região, outros agregados de zonas urbanas justapostas formam enormes conurbações, como a do Ruhr na Alemanha, ou da costa leste dos Estados Unidos, invadindo imensos territórios.
Todavia, no início do século, grandes cidades como Londres e Paris ocupam ainda um espaço relativamente limitado. Os seis milhões de habitantes da aglomeração londrina ocupam uma área num raio de 20 km ao redor do centro: os quatro milhões de habitantes de Paris e de seus subúrbios concentram-se num círculo de 20 km de diâmetro. Mas no período entre as duas guerras mundiais as duas capitais conhecem uma explosão espacial sem precedentes: em Londres assiste-se à triplicação do espaço urbanizado.
Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, as autoridades britânicas tomam plena consciência dos inconvenientes que representa a concentração num espaço limitado de uma grande parte da população e da infraestrutura industrial do país. Segundo as conclusões do relatório Barlow (1940) é adotada, logo após a 1ª guerra, uma política de descentralização industrial que se apoia na criação de cidades novas, tanto na região de Londres quanto em outras partes da Inglaterra. O “Plano da Grande Londres“ , elaborado por Sir Patrick Abercrombie, estabelece um cinturão verde ao redor da aglomeração existente e prevê a criação de oito cidades novas a aproximadamente 40 km da capital.
Nas últimas décadas do séc. X, há um prenúncio de crescimento desenfreado das metrópoles. No entanto, se as metrópoles da Europa Ocidental e da América do Norte apresentam ora inconvenientes inerentes à sua enormidade, elas são, por outro lado, o local de um alto nível de vida. Mas não ocorre o mesmo nas grandes cidades da maioria de outros países.
Na Moscou comunista, um quarto da população vivia em apartamentos exíguos, muitos deles possuindo apenas um banheiro e uma cozinha para várias famílias. Ë nos países do Terceiro Mundo que o gigantismo urbano se revela mais assustador. Sua característica particularmente desumana resulta do imenso crescimento demográfico do país onde a ciência e as técnicas médicas do Ocidente foram introduzidas artificialmente, rompendo o equilíbrio existente entre fecundidade e mortalidade “naturais “.
O aumento populacional segue uma progressão geométrica pois há o crescimento do número de nascimento e a queda da taxa de mortalidade. Contrariamente ao que se passou no Ocidente, o crescimento demográfico precede o progresso econômico, ao invés de acompanhá-lo. Foi necessário, “a posteriori “, suscitar a sobrevivência do excedente populacional.
A explosão urbana no terceiro mundo cresce assustadoramente. Caracas quintuplica sua população depois da Segunda Guerra mundial. Em São Paulo, Lima e na Cidade do México ela triplicou. Em Argel e Teerã a população triplicou e quadruplicou, respectivamente, nos últimos 20 anos do séc X. O Cairo, concebido para três ou quatro milhões de habitantes, conta aproximadamente com 10 milhões.
Menos ainda que as cidades europeias do séc. XIX, as cidades do Terceiro Mundo não conseguem acolher as massas humanas que para elas fluem. São rodeadas de imensos subúrbios feitos de favelas. Em Lima, 1/3 da população vive em favelas. Mesmo Brasília possui suas favelas.
Em algumas destas cidades gigantes não existe nem mesmo eliminação de esgoto e coleta de lixo. Os detritos acumulam-se na periferia em verdadeiras colinas sobre as quais vive um povo miserável de mendigos e das quais retiram sua subsistência. Trata-se, portanto, no final das contas, de uma situação bastante pior que aquela das grandes cidades ocidentais do séc. XIX. E os problemas se agravam ainda mais por alguns países não poderem ou não desejarem interromper seu absurdo crescimento demográfico.
Se na Índia, no Zaire ou no Brasil deixa-se a pequena cidade para se amontoar nas favelas, é porque existe diferença de nível entre as grandes cidades e o campo, totalmente incapaz de possibilitar a sobrevivência ao enorme excedente populacional. Apesar de sua miséria dramática, a cidade gigante do terceiro mundo é o local de esperança, onde talvez se tenha a chance de obter um emprego produtivo e, portanto, um salário.
3 CONCLUSÃO
Até a Revolução Industrial, apesar de uma evolução da imagem urbana, permanece válida a definição da cidade dada pela Enciclopédia : “Um conjunto de edifícios dispostos em ruas e cercados por um muro comum“.
Com a chegada do progresso técnico e da civilização industrial, essa visão tradicional é superada, multiplicando-se os problemas com os quais uma cidade se depara: crescimento demográfico, condições de habitação da população operária e, sobretudo, enriquecimento global da sociedade, que se traduz pelo fato de que cada um se beneficia com um espaço mínimo cada vez mais significativo, de objetos materiais cada vez mais numerosos e complexos e de uma quantidade crescente de prestações de serviços.
Desses novos problemas nasce o urbanismo moderno, que se pretende uma ciência, mas que é na realidade alimentado de utopias com caráter totalitário mais ou menos confesso. Em particular o urbanismo progressista, cuja influência é predominante, decorre em grande medida de modelos utópicos como os de Fourier, veiculando uma ideologia anti-urbana, que confunde a distinção tradicional entre espaço urbano e espaço rural. De modo que o urbanismo progressista resulta paradoxalmente no que mesmo Marx preconiza, em nome de uma ideologia anti-rural, a abolição da diferença entre cidade e campo e uma urbanização generalizada deste último.
Os resultados obtidos pelo urbanismo moderno são de um valor discutível, mas de uma amplitude arrasadora: isto se deve não a uma suposta qualidade enquanto ciência, mas às possibilidades geradas pelos meios técnicos que a civilização industrial coloca à disposição dos arquitetos, dos engenheiros e dos urbanistas. Graças a esses meios, o urbanismo progressista prossegue, ao menos no Ocidente, a alojar decentemente os homens.
Mas ele não prova que as vias utilizadas são as únicas nem as melhores. Elas constituem em todo o caso uma negação e mesmo assassinato da cidade. Quanto ao espaço rural, ele é simplesmente abandonado no percurso natural de uma urbanização difusa, que em uma geração o descaracteriza com construções de rara mediocridade. A salvação do que resta ainda das paisagens e dos sítios constitui uma das tarefas prioritárias do urbanismo atual e futuro.
FACULDADE ASSIS GURGACZ – FAG Curso de Arquitetura e Urbanismo. Disciplina de Planejamento Urbano e Regional I Professoras Denise Schuler e Michele Sedrez


ATIVIDADE – Valor: 2,0 pontos
Faça um resumo do texto, abordando a gênese do urbanismo moderno, o modelo progressista de urbanismo, o modelo urbanístico dominante, a volta ao modelo mais tradicional da cidade e o problema do gigantismo urbano.

CRONOGRAMA DAS VERIFICAÇÕES FINAIS


ATENÇÃO: Pela norma, a Verificação Final abrange todo o conteúdo ministrado no semestre. Entretanto, para fins de orientação e melhor preparação para a prova, atente aos seguintes conteúdos:

- Origem e evolução das cidades.
- Funções da cidade.
- Uso e ocupação do solo urbano.
- Processos de urbanização brasileira.
- Sociedade urbana e meio ambiente.
- Planejamento urbano.
- Sustentabilidade urbana: o crescimento econômico e a questão ambiental.
- Estatuto da Cidade e indicadores de qualidade de vida urbana.
- As revoluções industriais.
- Capitalismo, globalização e cidade industrial.
- Segregação social, exclusão social e economia informal.
- Cidades modernas.
- Mobilidade urbana e acessibilidade.
- História do Urbanismo e Carta de Atenas.

Lembre-se de que todo o material necessário para uma boa prova está neste BLOG.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

A CARTA DE ATENAS


Pontos relevantes
– O documento conhecido como Carta de Atenas foi redigido no IV CIAM que aconteceu em Atenas no ano de 1933.
– Os CIAMs – Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna foram realizados até a Segunda Guerra; após 1945 não tiveram grande relevância. Foram no total 10 congressos que abordaram temas de complexidade crescente, iniciando com as condições mínimas de alojamento até culminarem na cidade funcional.
– A Carta de Atenas é um apanhado geral das teorias do Urbanismo Racionalista ou Funcionalista. É possível identificar na redação traços do socialismo utópico, da Bauhaus, de Ebenezer Howard, Tony Garnier, etc.
– É quase unânime entre os críticos o fato de que, na verdade, a Carta não trazia nenhuma novidade. Países como os EUA, Alemanha, Suécia, Rússia, Holanda e França já aplicavam os preceitos da Carta há vários anos. A inovação ficou mesmo por conta da abordagem às questões de Patrimônio Histórico.
– O documento final foi redigido por Le Corbusier. O tema do congresso de 1933 foi “Cidade Funcional”. Havia uma intenção de renovação de função e de estética para os espaços em geral.
– O contexto social era o enfrentamento da destruição reflexo do pós-guerra, com destaque para o grande deficit habitacional. Os temas mais relevantes do debate foram:

·         propriedade privada cumprindo seu papel social, submetida ao interesse coletivo;
·         planejamento regional e intraurbano;
·         zoneamento definido a partir das funções;
·         tamanho e densidade das cidades, verticalização das construções localizadas em áreas verdes;
·         erradicação da rua-corredor;
·         racionalização, industrialização da construção por meio da padronização de elementos e componentes.

– As discussões culminaram na famosa teoria de organização espacial obedecendo as distintas atividades humanas básicas: trabalhar – habitar – cultivar o corpo e o espírito – circular. Acreditava-se firmemente que as decisões tomadas na prancheta poderiam guiar as cidades e até mesmo a vida dos indivíduos de maneira direta e completa.
– Uma marca importante da carta é a prevalência dos meios de transporte individuais em detrimento dos coletivos.

NOVA CARTA DE ATENAS

– Em 1998 foi redigido um documento intitulado A Nova Carta de Atenas. Em 2003 houve mais uma atualização. De autoria do Conselho Europeu de Urbanistas, CEU, a Nova Carta coloca os cidadãos em posição central das tomadas de decisões em relação às cidades; os urbanistas passam a orquestrar o desenvolvimento em parceria com profissionais de múltiplas áreas.
– O documento aborda a transformação rápida das cidades e o emprego da tecnologia para auxiliar o planejamento.
– Planejamento estratégico e desenvolvimento sustentável ganham destaque.
– Redes urbanas, cidades policêntricas.
– Importância do transporte coletivo.
– Preservação e destaque dos valores culturais.
– Envelhecimento da população, acessibilidade, necessidade de infraestrutura.
– Equilíbrio ambiental.
– Redução das desigualdades sociais.


sexta-feira, 7 de junho de 2019

GABARITO DA VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3


Questão 1. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU) é uma medida estatística comparativa que engloba três dimensões. Assinale a alternativa que apresenta corretamente essas dimensões.
A. renda, educação e expectativa de vida.
B. desenvolvimento científico, urbanização e taxa de desemprego.
C. escolaridade, renda per capita e mortalidade infantil.
D. saneamento básico, habitação e alimentação.
E. crescimento populacional, emprego e qualidade de vida.

Questão 2. O diagnóstico básico referente à estrutura da pobreza é o de que o Brasil não é um país pobre, mas um país extremamente injusto e desigual, com muitos pobres. Aqui existe farta disponibilidade de recursos para combater a pobreza e a sociedade brasileira não enfrenta problemas de escassez, absoluta ou relativa, de recursos para erradicar o seu atual nível de pobreza.
Avalie as afirmações sobre as condições socioeconômicas brasileiras e estabeleça a relação entre elas.
I. As desigualdades sociais são um fenômeno relativamente recente na história da sociedade brasileira.
PORQUE
II. O modelo econômico capitalista brasileiro é baseado na distribuição equitativa das riquezas.

A respeito das asserções acima, assinale a opção correta.
A.    As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta de I.
B.    As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta.
C.   A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D.   A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E.    As asserções I e II são proposições falsas.

Questão 3. Os estudiosos das questões socioeconômicas buscam segmentar os países com base em seus níveis de crescimento econômico e desenvolvimento social. De modo geral, separam os países em desenvolvidos, também chamados de centrais ou ricos, e os países subdesenvolvidos, também chamados de periféricos ou pobres. Entre esses extremos, existiriam os chamados países emergentes, que apresentam níveis medianos de desenvolvimento humano, um relativo crescimento econômico e, principalmente, a capacidade para se tornarem grandes potências mundiais nos médio e longo prazos.
Escolha a alternativa que informa corretamente as condições socioeconômicas do Brasil.

A. O Brasil se livrou de várias condições socioespaciais e historicamente constituídas que o levaram ao subdesenvolvimento, tais como a concentração de renda elevada, o limitado desenvolvimento humano, a baixa qualidade em educação e saúde e as limitações de infraestrutura.
B. A economia do Brasil apresenta várias características gerais que costumam predominar nos países emergentes: industrialização, abertura econômica ao capital multinacional, forte crescimento do setor terciário, condições medianas de desenvolvimento econômico e humano, entre outras.
C. Em relação à economia, o Brasil apresenta um grau de industrialização bastante elevado, com predomínio dos setores industriais terciário (atividades do comércio) e quaternário (serviços baseados no conhecimento e compartilhamento de informação).
D. Em relação ao desenvolvimento humano, o Brasil apresenta elevado IDH, portanto, apresentam boa qualidade de vida, elevada renda e grau de educação.
E. São características socioeconômicas do Brasil o reduzido nível de industrialização, baixa renda per capita, baixa qualidade e expectativa de vida, economia agrícola e baixa taxa de urbanização.

Questão 4. O crescimento econômico tem sido a base das melhorias materiais obtidas pela humanidade desde a Revolução Industrial. Porém, esse modelo exige um aumento constante da produção, o qual é alimentado pela cultura de consumo, cujos valores já são profundamente arraigados e dificilmente serão alterados. Desde 2013, o termo “estagnação secular” entrou em evidência, significando que a economia mundial deve entrar em um longo período de baixo crescimento econômico.

Assinale a alternativa que apresenta corretamente as condições para o crescimento econômico no Século XXI.
A. Grande disponibilidade de energia fóssil e de recursos naturais.
B; Permanência dos índices de crescimento da população.
C. Diminuição da população economicamente ativa.
D. Condições favoráveis do meio ambiente, inclusive a estabilidade do clima.
E. Diminuição da produtividade no trabalho.

Questão 5. Um dos aspectos que mais afetam a harmonia de uma sociedade é a exclusão social. Nas alternativas abaixo, assinale a afirmação que se relaciona corretamente com a noção atual de exclusão social.
A. Exclusão social é um termo que se refere exclusivamente aos pobres que precisam ser amparados por ações governamentais.
B. A exclusão social está relacionada a uma condição subjetiva e não à condição objetiva, econômica e ocupacional, dos indivíduos.
C. Exclusão social é um termo para designar a marginalidade dos moradores em guetos, com forte carga preconceituosa e estigmatizante.
D. Exclusão social é um termo que caracteriza o distanciamento de uma pessoa ou grupo que esteja em situação desfavorável ou vulnerável em relação aos demais indivíduos e grupos da sociedade.
E. Exclusão social é um termo que caracteriza apenas os grupos populacionais de imigrantes e moradores das periferias.

Questão 6. A cidade moderna convive hoje com duas realidades que causam profundas transformações no seu conteúdo e forma. Assim como a globalização, a urbanização também produz contradições. Seus efeitos sobre a cidade tanto podem ser criativos como destrutivos..” (SILVA, Regina Celly Nogueira e MACÊDO, Celênia de Souto. Geografia Urbana. Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Estadual da Paraíba. Programa Universidade a Distância)
Leia as afirmações abaixo.

I. Concentração e coesão de pessoas.
II. Concentração de serviços e enfraquecimento da coesão entre os lugares.
III. Fragmentação do espaço urbano e enfraquecimento das tradições.
IV. Falta de oportunidades e escassez de mercadorias.

Assinale a alternativa que apresenta corretamente as realidades da cidade moderna.
A. I e II            B. II e III.      C. III e IV        D. I e IV           E. I e III.

Questão 7. O capitalismo pode ser entendido como um sistema econômico, um sistema social e também como uma ideologia.
A explicação sobre as origens do capitalismo remonta uma história de longa duração em que nos deparamos com as mais diversas experiências políticas, sociais e econômicas. Em geral, compreendemos a deflagração desse processo com o renascimento comercial experimentado nos primeiros séculos da Baixa Idade Média. Nesse período, vemos uma transformação no caráter autossuficiente das propriedades feudais na qual as terras começaram a ser arrendadas e a mão de obra começou a ser remunerada com um salário. (SOUSA, Rainer Gonçalves. "Origem do Capitalismo"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/origem-capitalismo.htm>. Acesso em 15 de maio de 2019.)

Avalie as afirmações sobre o capitalismo estabeleça a relação entre elas.
I. Para o equilíbrio das relações sociais e econômicas, as decisões sobre oferta, demanda, preço, distribuição e investimentos no sistema capitalista são feitos pelo governo.
PORQUE
II. O capitalismo é um sistema baseado na propriedade privada e na liberdade de comércio e produção, com o principal objetivo de adquirir lucro.
A respeito das asserções acima, assinale a opção correta.

A. A. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta de I.
B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta.
C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E. As asserções I e II são proposições falsas.

Questão 8. Vivemos em uma sociedade capitalista. No século passado, o capitalismo viveu diversos momentos de crise nos quais percebemos claramente os problemas de sua lógica de crescimento permanente. Porém, muitos chegam a acreditar que seria impossível imaginar um outro mundo fora do capitalismo. De outro lado, os críticos do sistema preconizam o seu final.

 “Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão. Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio. O deus mercado organiza a economia, a vida e financia a aparência de felicidade” (Discurso de José Mujica na 68ª Assembleia Geral da ONU, em 16/09/2014. Obtido em https://www.revistaforum.com.br/com-criticas-ao-capitalismo-e-consumismo-mujica-faz-discurso-epico-na-onu/. Acesso em 15/05/2019)

Assinale a opção que apresenta corretamente as características do capitalismo.
A. Obtenção de lucro e concentração de riquezas.
B. Estímulo ao consumo e intervenção do Estado na economia.
C. Propriedade social e políticas distributivas das riquezas.
D. Propriedade privada e integração social.
E. Divisão de classes sociais e poder popular.

Questão 9. O capitalismo sofreu, ao longo de sua história, diversas transformações, crises e superações. Vemos, atualmente, que novas formas de rearticulação das políticas econômicas, a globalização e o progresso tecnológico levaram o capitalismo a alcançar novas fronteiras.
As descrições seguintes referem-se às fases do capitalismo.

I. corresponde ao período econômico e social marcado pelo avanço da globalização, dos computadores, dos telefones digitais, da robótica e da internet.
II. Surgiu a partir da transformação do sistema de produção e teve a mudança dos produtos manufaturados para grandes escalas de produção, ou seja, os trabalhos artesanais foram substituídos pelas máquinas.
IIII. Seu objetivo principal era o acúmulo de capital, a exploração de terras e a comercialização de bens, sempre com o intuito de enriquecimento. 
IV Corresponde a um tipo de economia capitalista em que o grande comércio e a grande indústria são controlados pelo poderio econômico dos bancos comerciais e outras instituições financeiras.

Assinale a alternativa que relaciona corretamente as fases do capitalismo com as suas descrições.
A. I – capitalismo informacional; II – capitalismo financeiro.
B. II – capitalismo informacional; III – capitalismo comercial.
C. III – capitalismo financeiro; IV – capitalismo informacional.
D. III – capitalismo comercial; IV – capitalismo financeiro.
E. I – capitalismo comercial. II – capitalismo industrial.

Questão 10. O capitalismo (comércio, indústria, serviços) influencia e condiciona as transformações urbanas, em diferentes ritmos e períodos entre os diversos países.
Assinale a alternativa que corresponde ao atual processo de transformações provocadas pelo capitalismo.

A. O processo industrial é o único fator responsável pela dinamização das sociedades capitalistas.
B. O processo de urbanização tem sido refreado pelos fatores repulsivos das cidades, como a violência urbana, o desemprego e a marginalização social.
C. As transformações no meio rural, como o emprego de máquinas e os avanços tecnológicos são fatores atrativos do atual processo de ruralização brasileiro.
D. O Brasil é uma sociedade predominantemente agrária, onde o campo exerce uma relação preponderante sobre as cidades, uma vez que elas dependem do meio rural para a geração de alimentos, matérias-primas e movimentação de capital.
E. No Brasil, os fatores repulsivos do campo e os desastres climáticos continuam a estimular a urbanização.

ATENÇÃO: As respostas às questões dissertativas, apresentadas a seguir, são apenas orientativas.
Questão 11. A exclusão social e os problemas gerados por ela são muito explícitos no dia-a-dia e a responsabilidade pela solução deste fenômeno se divide entre o governo e a sociedade, por meio de políticas públicas de incentivo a reinclusão destas pessoas nas atividades sociais. As pessoas e os grupos que vivem nesta condição de exclusão social normalmente são marginalizados pela sociedade por diversas razões, sofrendo preconceitos pela diferença de condição social, raça, religião, gênero, orientação sexual, escolhas de vida, entre outros.
Elabore um texto de pelo menos 12 linhas sobre a exclusão social de gênero, caracterizando os principais problemas e desafios para a inclusão social das pessoas por ela afetadas.

RESPOSTA
A relação de gênero formada por homens e mulheres é norteada pelas diferenças biológicas, geralmente transformadas em desigualdades que tornam a mulher vulnerável à exclusão social. A exclusão social é o produto das hierarquias sociais que consideram alguns grupos como sendo inferiores a outros. É criada através de normas e práticas socioculturais construídas através de crenças, valores, atitudes e comportamentos, que servem para desconsiderar, estereotipar, ridiculizar e estigmatizar estes grupos. As mulheres estão ainda numa posição subordinada na maioria dos grupos excluídos (visto como dupla exclusão). A exclusão que atinge a mulher se dá, às vezes, simultaneamente, pelas vias do trabalho, da classe, da cultura, da etnia, da idade, da raça, e, assim sendo, torna-se difícil atribuí-la a um aspecto específico desse fenômeno, em vista de ela combina vários dos elementos da exclusão social. Os mecanismos de exclusão e inclusão são sutis e, frequentemente, passam despercebidos, pois a maioria das pessoas comporta-se de acordo com parâmetros socialmente delimitados. Apesar de as leis introduzirem princípios de igualdade entre os gêneros, estas continuam a ter pouco efeito na prática. Além disso, a participação feminina no exercício de liderança política, sindicatos e em comitês governamentais que tratam desta questão tem sido baixa e desestimulada. No mercado de trabalho, as mulheres ocupam preferencialmente profissões pouco prestigiadas e mal remuneradas. Nas empresas, exercendo a mesma ocupação de homens, recebem remuneração inferior. Suas atividades domésticas, o cuidado com a família, não são reconhecidas socialmente. A dupla jornada de trabalho (dentro e fora de casa), a baixa remuneração, o preconceito e a desvalorização muitas vezes não são questionados nem pelas próprias mulheres, pois são tratadas como “naturais”. Poucas são aquelas que adquirem consciência destes mecanismos e se propõem discuti-los ou mesmo desafiá-los.

Questão 12. A globalização pretende ser homogeneizadora, como presença obrigatória em todos os continentes e lugares. E a promessa de construção de um mundo só estaria incluída nesse movimento. Todavia, tal pretensão até agora apenas renova disparidades e cria novas desigualdades, o que é devido à violência dos seus processos fundadores, todos praticamente indiferentes às realidades locais. A aplicação brutal de princípios gerais a situações tão diversas é criadora de desordem. Por isso mesmo, a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas.
(Milton Santos. O Brasil da globalização. Fonte: http://pessoal.educacional.com.br/up/4770001/1306260/t1311.asp. Acesso em: 20 de dez 2009.)

Elabore um texto de pelo menos 12 linhas discutindo a afirmação de Milton Santos “a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas.”

RESPOSTA
A globalização acentua as disparidades econômicas e sociais tanto entre países como entre as empresas e as pessoas. Ela tem gerado alta concentração financeira e acentuado avanço tecnológico entre os mais ricos e, por outro lado, acentuado a pobreza, a estagnação econômica e o atraso tecnológico dos países, empresas e pessoas pobres. A maioria destes últimos encontram-se endividados e submetidos à condição de fornecedores de produtos primários, serviços de baixa qualificação e mercado de consumo de bens de alta tecnologia dos mais avançados.

Questão 13. ”À medida que o desenvolvimento técnico e o capital investido em um determinado setor industrial tornavam-se maiores, permitiam que os capitalistas e/ou países que contavam com largas fatias do mercado reforçassem suas posições e inviabilizassem a entrada de outros capitalistas e/ou países nesta concorrência. Com a deslocalização – desdobramento - internacionalização do capital a produção diferenciada entre as regiões/países provoca um desenvolvimento desigual entre estes lugares, embora articulado entre si, que se manifesta numa urbanização com estes mesmos traços.” (SPÓSITO, Maria Encarnação B. Capitalismo e Urbanização. São Paulo : Contexto, 2000).

Elabore um texto relacionando capitalismo e desigualdade social.
RESPOSTA

A ordem social capitalista é essencialmente contraditória, posto que a sua reprodução expressa abundância em riquezas, mas também uma constante acumulação dessas riquezas em poder de uma minoria. A produção de riquezas se apoia na exploração do trabalho, enquanto a acumulação é legitimada pelas leis, as quais, em última instância, são elaboradas para proteger o capital. Exemplo disso, é o que se vê atualmente no Brasil, onde as leis trabalhistas e previdenciárias foram e estão sendo mudadas a detrimento da maioria trabalhadora. Esta situação amplia a distância entre ricos e pobres, estimulando as mazelas sociais, tais como o desemprego, a fome, a favelização, a violência, a precariedade dos serviços públicos de educação e saúde e as perdas generalizadas da qualidade de vida da maioria da população. No arquitetura e no urbanismo, a desigualdade social é expressa pelo contraste entre os bairros ricos, bem planejados e providos de excelentes serviços públicos, e os bairros pobres, com seus cortiços, favelas, degradação ambiental e precariedade de serviços públicos.

Questão 14. “A forma como as cidades são planejadas, ou a forma que ela toma com o passar do tempo, devido ao aumento da população, causam um enorme impacto na vida das pessoas, de coisas simples e pequenas que aos poucos se tornam grandes problemas para a população. Com a globalização, informatização, aumento de veículos e da população, ocorrem a realocação de atividades de comércio e serviços para as partes periféricas da cidade devido ao seu rápido crescimento, assim busca-se no meio da disputa pelo espaço urbano entre veículos e pessoas, um cenário onde o conceito de acessibilidade desempenha papel fundamental para que haja igualdade social, em que todas as pessoas, indiferentemente de suas necessidades e características, possam utilizar o espaço da melhor maneira, o mais confortável e seguro possível.” (Eridiana Pizzinatto Almeida e outros. Mobilidade e Acessibilidade Urbana. Obtido em: https://www.imed.edu.br/Uploads/Mobilidade%20e%20Acessibilidade%20Urbana.pdf)
Elabore um texto de pelo menos 12 linhas sobre mobilidade urbana e aponte os fatores que contribuem para a má qualidade urbana no Brasil.

RESPOSTA
As cidades refletem seus projetos arquitetônicos, onde nem sempre existem projetos urbanísticos; ou, se eles existem, muitas vezes são produzidos sem levar em conta as reais necessidades da população, o interesse público; eles são baseados em interesses políticos e econômicos particulares. Embora os projetos urbanísticos das cidades que mais se preocupam com planejamento se fundamentem nos aspectos viários, privilegia-se o tráfego de veículos particulares, que são acessíveis à parte da população com melhor rendimento, o que ocasiona problemas graves na mobilidade urbana. Os fatores que contribuem para a má qualidade da mobilidade urbana no Brasil são apontados como sendo a herança rodoviarista (privilégio para os veículos particulares), crédito facilitado e redução de impostos para a compra de carros (o que leva ao crescimento da frota para além da capacidade de suporte da rede viária), má qualidade do transporte público e a ausência ou dificuldade do planejamento urbano para acompanhar a explosão urbana.

Questão 15. Relativamente à acessibilidade urbana, conceitue barreira e descreva as barreiras arquitetônicas urbanísticas; as barreiras arquitetônicas na edificação; as barreiras arquitetônicas nos transportes e as barreiras nas comunicações.

RESPOSTA

Barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas.
Barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público. Elas estão presentes na forma como são feitas as ruas, calçadas, estacionamentos de veículos e faixas de pedestres, por exemplo.
Barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios públicos e privados. São exemplos, ausência de rampas, escadas sem corrimãos, portas estreitas, ausência de sanitários para deficientes, balcões e bebedouros inapropriados, ausência de sinalização tátil e a disposição dos móveis e objetos pode facilitar ou dificultar o deslocamento.
Barreiras arquitetônicas nos transportes: as existentes nos meios de transportes. São exemplos: transporte público com ausência de rampas, elevadores, plataformas e outras adaptações para deficientes físicos; degraus nas portas dos coletivos; ausência de sinalização para deficientes visuais; ausência de spaços reservados e apropriados para cadeira de rodas, equipados com cintos de segurança e até falta de treinamento em atendimento adequado para os empregados em transporte urbano.
Barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa. Dificuldade gerada pela falta de informações a respeito do local, em função dos sistemas de comunicação disponíveis (ou não) em seu entorno, quer sejam visuais (inclusive em braille), luminosos e/ou auditivos. Também são barreiras comunicacionais a falta de sinalização urbana, deficiência nas sinalizações internas dos edifícios, ausência de legendas e audiodescrição na TV, falta de intérpretes de Libras, entre outras.