Breve História do Urbanismo
Solange Irene
Smolarek Dias
1 INTRODUÇÃO
O termo “urbanismo” é um neologismo inventado há
mais de um século. Este significado designa uma realidade específica: o
surgimento no final do séc. XIX de uma nova disciplina que se apresenta como
uma ciência e uma teoria da cidade “distinguindo-se das artes urbanas
anteriores pelo seu caráter reflexivo e crítico e pela sua pretensão
científica”.
O termo “urbanismo” passou a englobar uma grande
parte do que diz respeito a cidade, obras públicas, morfologia urbana, planos
urbanos, práticas sociais e pensamento urbano, legislação e direito relativo a
cidade.
O pensamento urbanístico moderno, é uma criação
específica do espírito ocidental. É portanto essencial reconstituir a evolução
do urbanismo ocidental, no final do qual nascerá o urbanismo moderno.
Há duas fontes intelectuais do urbanismo moderno,
ambas da Renascença. A primeira é a De re Aedificatoria, de Alberti, que
procura conceituar de maneira definitiva as regras racionais que propiciam uma
criação harmoniosa, tanto de uma casa quanto de uma cidade. A segunda é A
Utopia, de More, primeiro modelo espacial e ideológico completo de uma
realidade futura.
Antes da afirmação de um discurso teórico autônomo
que pretende fundar sob seu único domínio a realidade urbana, desenvolve-se no
Ocidente uma longa fase preparatória. É só de maneira progressiva que uma parte
da humanidade se distancia de uma visão do espaço urbano condicionada pela
religião, pelo sagrado, por práticas e representações sociais que por sua vez
está em conformidade com uma determinada concepção de mundo.
A antiguidade greco-romana contribui para amenizar
os laços de dependência que ligam a religião à organização do espaço
constituído. Na Idade Média, embora toda a sociedade esteja imersa num ambiente
profundamente religioso, são as autoridades leigas que procuram estabelecer um
domínio no espaço urbano. A partir da Renascença, os fundamentos urbanísticos
autônomos se encontram colocados, mas a ruptura com o passado não está de fato
consumada. Se a razão se impõe cada vez mais, a utopia está presente ainda nas
portas das cidades.
É a Revolução Industrial que engendra o urbanismo
moderno, provocando uma rejeição efetiva das concepções tradicionais da cidade
e utilizando como recurso a utopia.
2 O URBANISMO DA ERA INDUSTRIAL - A Evolução Urbana
nos Séculos XIX e XX
Se a população mundial aumenta prodigiosamente nos
últimos dois séculos, o crescimento da população vivendo nas cidades é mais
rápido ainda. Enquanto a população mundial quadruplica após 1850, a população
urbana se multiplica por dez. Este grande inchaço é consequência dos progressos
técnicos e científicos realizados a partir da metade do séc. XVIII.
É a Europa ocidental que desencadeia o processo,
logo seguida e posteriormente ultrapassada pelos Estados Unidos
Nos países onde ocorre o progresso técnico, o
aumento da produtividade do trabalho acarreta um aumento da produção global, o
que possibilita o crescimento demográfico e a elevação do nível de vida.
Paralelamente, a estrutura da população ativa se
transforma. Enquanto no início do séc. XIX todas as nações ocupam 80% de sua
população no setor primário (agricultura), 8% no secundário (indústria) e 12%
no terciário (serviços), assiste-se nos países industrializados a uma
verdadeira fundição do primário em benefício do secundário e do terciário.
Posteriormente, em função de um novo progresso da produtividade na indústria, o
secundário diminui por sua vez em benefício do terciário, que é o grande
beneficiário do desenvolvimento econômico. Assim, nos países desenvolvidos, um
número restrito de agricultores (5 a 10%) é suficiente para alimentar o
conjunto de habitantes. Ora, eles são 80% dois séculos antes. Isso significa
que todos os excedentes, que exploram as terras menos rentáveis, são obrigados
a partir. O êxodo rural transforma-os, mesmo a contragosto, em citadinos. O
despovoamento do campo acarreta o aumento da população nas cidades.
A Gênese do Urbanismo Moderno
A Revolução Industrial, que nasce na Inglaterra,
lança toda uma população operária nas cidades, que não estão preparadas para
acolhê-las. Resulta uma proliferação de cortiços. As famílias operárias
amontoam-se em locais estreitos e sem conforto em Lille, Liverpool e
Manchester. Aos olhos dos contemporâneos, é toda a cidade que está doente.
Balsac classifica Paris de “cancro“. Médicos, filantropos, sociólogos,
economistas, romancistas, diante das epidemias e da delinquência, veem aí os
frutos envenenados dos cortiços, as infeções de uma cidade má, acusada de
corromper a raça humana, de destilar o vício e o crime.
Uma série de pensadores repudia a noção tradicional
de cidade e elabora modelos que permitem reencontrar uma ordem perturbada pelo
maquinismo. É desta pesquisa que nasce a principal corrente do urbanismo
moderno, a corrente progressista.
A Corrente Progressista
Baseia-se numa concepção abstrata do homem,
indivíduo mutável no tempo e no espaço. A ciência deve portanto permitir a
definição exata de um modelo urbano perfeito que convenha a todo grupo humano.
Desde 1901 o arquiteto Tony Garnier elabora um
plano da cidade industrial, onde se encontra quase tudo o que está na base do
urbanismo atual. Os “arquitetos racionalistas” constituem, a partir de 1928 um
movimento internacional (CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna). Em 1933 os arquitetos do CIAM elaboram um manifesto doutrinal: “A
Carta de Atenas”. Verdadeiro catecismo do urbanismo progressista, este
documento teve muitas ideias de Le Corbousier.
O urbanismo progressista é obcecado pela
modernidade. A cidade do séc. X devia ser de seu tempo, afirmar a
contemporaneidade de tudo aquilo que se traduz como o avanço da técnica: a
indústria, o automóvel, o avião.
Há uma preocupação desvairada pela higiene, que se
concretiza nas exigências de sol e verde.
A Carta de Atenas exige construções altas,
afastadas umas das outras, isoladas no verde e na luz. Um outro teorema do
urbanismo progressista é a abolição da rua, denunciada como anacrônica,
barulhenta, perigosa, contrária aos imperativos de luminosidade e higiene. A
Carta de Atenas exige que os imóveis sejam implantados longe dos fluxos de
circulação.
O modelo progressista fundamenta-se na análise das
funções urbanas acompanhadas de zoneamento: habitação, trabalho, lazer. A
circulação é concebida como uma função distinta, independente em relação às
edificações, com diferenciação de vias segundo velocidades.
O esquema urbano é concebido para o homem-padrão.
Em qualquer lugar do mundo. Tanto para as grandes como para as pequenas cidades.
Qualquer que seja o regime político ou o nível de desenvolvimento econômico.
Deste volume de realizações surgem Chandigarh, a partir dos planos de Le
Corbousier e Brasília, com planos de Niemeyer. Encomendados pelos presidentes
Neru e Juscelino, respectivamente, constituem grandiosas manifestações do
urbanismo e da estética progressistas.
Edifícios públicos gigantescos que dominam imensos
espaços vazios constituem uma escultura urbana de inspiração cubista, à base de
volumes geométricos simples. Em Brasília os bairros habitacionais não diferem
muito dos conjuntos habitacionais de Singapura, Paris e Moscou.
As Dificuldades: O Urbanismo Contra a Cidade.
O modelo urbanístico dominante é hoje amplamente
contestado. Paralelamente, a cidade saída do passado, contra a qual foram
dirigidas as ironias e as ofensas do urbanismo progressista, é objeto de uma
reabilitação que felizmente não é sempre póstuma.
Um urbanismo desumano. Esta é a principal crítica
endereçada atualmente ao modelo dominante. Ë forçoso constatar essa recusa pelo
usuário das cidades modernas e do sistema de valores que lhes é subjacente.
Cada vez mais nossa sociedade recusa as caixas de habitação e o concreto que
invade e que agride a cidade antiga e desnatura os espaços rurais.
Contudo, isto de certa forma é inevitável, devido a
evolução econômica e demográfica. No pós guerra, na Europa, é necessário
construir abundantemente em função das destruições, do crescimento demográfico
e do êxodo rural que acompanhava o crescimento econômico e o progresso social.
Volta-se para uma produção maciça de habitações sociais. Os grandes conjuntos
habitacionais proliferam-se. Esse urbanismo, embora sob certo ponto de vista
insatisfatório, ao menos assegura à grande massa da população o benefício das principais
conquistas da técnica moderna tanto no sanitário quanto no econômico. Ë um
grande resultado. Mas poder-se-ia ter adotado fórmulas de habitat mais humanas.
O emprego do concreto e de outros materiais
modernos é inevitável. Jamais se construirá como no passado, em nome do qual
nos regozijamos ou não. Os materiais e as técnicas modernas permitem um grande
aumento da produtividade: a construção necessita de bem menos horas de trabalho
humano que outrora. No mais, o metal e o concreto armado permitem alturas e
cargas impossíveis para a pedra e a madeira. Esse aumento da produtividade é
algo excelente, pois o trabalho humano é caro nas sociedades industriais, mesmo
quando é pouco produtivo.
Se a produtividade na construção não tivesse
aumentado nos últimos cem anos, não se pagaria aos operários como se paga
atualmente. E, como o número de horas de trabalho necessárias para um dado
edifício teria permanecido bastante elevado, a construção seria bem mais cara:
viveríamos cinco em cada cômodo. Para subsistir nas sociedades industriais, a
atividade da construção exige uma produtividade o mais alta possível. Esse
imperativo proíbe praticamente em nossos dias o emprego de material
tradicional, desuniforme, lento para separar, trabalhar e colocar no devido
lugar.
A civilização dos cortadores de pedra e dos
montadores de belos telhados está praticamente morta. Nós somos uma triste
civilização de empilhadores de tijolos furados, de concreto de estruturas
metálicas. Tal é o prêmio técnico, da nossa vida materialmente fácil e da nossa
habitação decente.
Tudo isso está unido de maneira indissociável, e
ninguém pode fazer nada, não mais os urbanistas e os arquitetos que o comum dos
mortais. Não é o emprego do concreto que se deve censurar no urbanista
progressista, mas o fato de ter erigido como dogma a superioridade estética
intrínseca do concreto.
Sobretudo a grande culpabilidade do urbanismo
progressista é de apresentar a cidade futurista, com seus imóveis coletivos
gigantes, formigueiros extremamente confortáveis com inúmeras células
habitacionais, como o lugar da felicidade perdida. De modo que quando chega a
hora de construir bastante e depressa, arquitetos e urbanistas, impregnados da
ideologia progressista, julgam normal e desejável a realização de grandes
conjuntos. O grande pecado do urbanismo progressista é ter imposto o ideal não
confesso de um universo kafkiano, à base de espaços desestruturados e de
gigantescas “máquinas de habitar”, para homens-máquina.
De Volta a Uma Concepção Mais Tradicional da Cidade
A cidade volta a ser moda, a cidade verdadeira, com
ruas de pedestres, lojas, oficinas. Desde 1961, a socióloga americana Jane
Jacobs, analisando os prejuízos do urbanismo e da renovação urbana nos Estados
Unidos, mostra que o abandono da rua acarreta o desaparecimento das principais
vantagens da vida urbana: segurança, contato, formação das crianças,
diversidade das relações. Ela acrescenta que a estrita aplicação do princípio
do zoneamento esvazia durante o dia os bairros habitacionais: reina então um
sentimento de tédio que reforça a padronização da arquitetura.
Quanto aos espaços verdes e terrenos circunvizinhos
destinados a jogos nos conjuntos habitacionais, eles favorecem a delinquência
de grupos adolescentes: lá eles encontram um espaço mais favorável que a rua
para seus delitos, pois eliminam a vigilância dos adultos. J. Jacobs observa
que nos bairros sem atração para o público, os parques não fazem mais que
acentuar “o tédio, a insegurança e o vazio”. Para ela, o essencial é refazer as
ruas, que ela deseja vivas, animadas, comerciais, locais de sociabilidade e de
segurança. Suas ideias inspiram parcialmente a reordenação do centro de grandes
cidades como Boston e Filadélfia.
Sociólogos e psiquiatras constatam que um bairro
considerado deteriorado e insalubre pode revelar-se muito mais sadio
socialmente do que um bairro renovado pelos urbanistas; é o que testemunham as
estatísticas relativas aos distúrbios mentais, ao alcoolismo e à delinquência.
A abolição da rua e sua substituição por grandes
espaços vazios se traduzem por uma certa desintegração mental dos habitantes,
enquanto que uma forte estruturação do tecido urbano é, ao contrário,
acompanhada de uma forte estruturação psíquica dos habitantes.
O modelo urbano progressista, com seus grandes
conjuntos habitacionais e seus espaços livres pode, portanto, revelar-se
favorável ao desenvolvimento da imoralidade. Se os bairros recentes respondem
aos imperativos da higiene e da salubridade física, sua arquitetura e seu
espaço desestruturado podem ser fonte de angústia, escondendo uma certa
insalubridade psíquica.
A ideia de refazer as ruas ganha terreno a cada
dia. “A cidade readquiriu coragem e passou a lutar. Fala-se novamente das ruas.
Fala-se da vida citadina”. Mas isso supõe tornar bastante flexível as regras do
zoneamento, que dissociam a função da habitação das demais funções urbanas.
Senão, realizam-se somente ruas mortas de cidades-dormitórios. E antes mesmo de
dar vida às ruas a tarefa mais urgente consiste em interromper a destruição das
ruas existentes. Elas constituem um capital urbano que nos coloca na
incapacidade de substituir por qualquer coisa da mesma qualidade.
Um Problema sem Solução: O Gigantismo Urbano
Poucos temas têm tanta repercussão em nossa época
como o dos aspectos negativos das megalópoles; caráter inviável da grande
cidade, problemas de circulação e de abastecimento, esgotamento nervoso dos
habitantes, poluição, etc.
De fato, as grandes aglomerações urbanas gigantes
do século X não possuem mais nada daquilo que no passado chamava-se cidade.
Enquanto cidades como Nova Iorque, Londres ou Paris expandem-se na escala de
uma região, outros agregados de zonas urbanas justapostas formam enormes
conurbações, como a do Ruhr na Alemanha, ou da costa leste dos Estados Unidos,
invadindo imensos territórios.
Todavia, no início do século, grandes cidades como
Londres e Paris ocupam ainda um espaço relativamente limitado. Os seis milhões
de habitantes da aglomeração londrina ocupam uma área num raio de 20 km ao
redor do centro: os quatro milhões de habitantes de Paris e de seus subúrbios
concentram-se num círculo de 20 km de diâmetro. Mas no período entre as duas
guerras mundiais as duas capitais conhecem uma explosão espacial sem precedentes:
em Londres assiste-se à triplicação do espaço urbanizado.
Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, as
autoridades britânicas tomam plena consciência dos inconvenientes que
representa a concentração num espaço limitado de uma grande parte da população
e da infraestrutura industrial do país. Segundo as conclusões do relatório
Barlow (1940) é adotada, logo após a 1ª guerra, uma política de
descentralização industrial que se apoia na criação de cidades novas, tanto na
região de Londres quanto em outras partes da Inglaterra. O “Plano da Grande
Londres“ , elaborado por Sir Patrick Abercrombie, estabelece um cinturão verde
ao redor da aglomeração existente e prevê a criação de oito cidades novas a
aproximadamente 40 km da capital.
Nas últimas décadas do séc. X, há um prenúncio de
crescimento desenfreado das metrópoles. No entanto, se as metrópoles da Europa
Ocidental e da América do Norte apresentam ora inconvenientes inerentes à sua
enormidade, elas são, por outro lado, o local de um alto nível de vida. Mas não
ocorre o mesmo nas grandes cidades da maioria de outros países.
Na Moscou comunista, um quarto da população vivia
em apartamentos exíguos, muitos deles possuindo apenas um banheiro e uma
cozinha para várias famílias. Ë nos países do Terceiro Mundo que o gigantismo
urbano se revela mais assustador. Sua característica particularmente desumana
resulta do imenso crescimento demográfico do país onde a ciência e as técnicas
médicas do Ocidente foram introduzidas artificialmente, rompendo o equilíbrio
existente entre fecundidade e mortalidade “naturais “.
O
aumento populacional segue uma progressão geométrica pois há o crescimento do
número de nascimento e a queda da taxa de mortalidade. Contrariamente ao que se
passou no Ocidente, o crescimento demográfico precede o progresso econômico, ao
invés de acompanhá-lo. Foi necessário, “a posteriori “, suscitar a
sobrevivência do excedente populacional.
A
explosão urbana no terceiro mundo cresce assustadoramente. Caracas quintuplica
sua população depois da Segunda Guerra mundial. Em São Paulo, Lima e na Cidade
do México ela triplicou. Em Argel e Teerã a população triplicou e quadruplicou,
respectivamente, nos últimos 20 anos do séc X. O Cairo, concebido para três ou
quatro milhões de habitantes, conta aproximadamente com 10 milhões.
Menos
ainda que as cidades europeias do séc. XIX, as cidades do Terceiro Mundo não
conseguem acolher as massas humanas que para elas fluem. São rodeadas de
imensos subúrbios feitos de favelas. Em Lima, 1/3 da população vive em favelas.
Mesmo Brasília possui suas favelas.
Em
algumas destas cidades gigantes não existe nem mesmo eliminação de esgoto e
coleta de lixo. Os detritos acumulam-se na periferia em verdadeiras colinas
sobre as quais vive um povo miserável de mendigos e das quais retiram sua subsistência.
Trata-se, portanto, no final das contas, de uma situação bastante pior que
aquela das grandes cidades ocidentais do séc. XIX. E os problemas se agravam
ainda mais por alguns países não poderem ou não desejarem interromper seu
absurdo crescimento demográfico.
Se
na Índia, no Zaire ou no Brasil deixa-se a pequena cidade para se amontoar nas
favelas, é porque existe diferença de nível entre as grandes cidades e o campo,
totalmente incapaz de possibilitar a sobrevivência ao enorme excedente populacional.
Apesar de sua miséria dramática, a cidade gigante do terceiro mundo é o local
de esperança, onde talvez se tenha a chance de obter um emprego produtivo e,
portanto, um salário.
3
CONCLUSÃO
Até
a Revolução Industrial, apesar de uma evolução da imagem urbana, permanece
válida a definição da cidade dada pela Enciclopédia : “Um conjunto de edifícios
dispostos em ruas e cercados por um muro comum“.
Com
a chegada do progresso técnico e da civilização industrial, essa visão
tradicional é superada, multiplicando-se os problemas com os quais uma cidade
se depara: crescimento demográfico, condições de habitação da população
operária e, sobretudo, enriquecimento global da sociedade, que se traduz pelo
fato de que cada um se beneficia com um espaço mínimo cada vez mais
significativo, de objetos materiais cada vez mais numerosos e complexos e de
uma quantidade crescente de prestações de serviços.
Desses
novos problemas nasce o urbanismo moderno, que se pretende uma ciência, mas que
é na realidade alimentado de utopias com caráter totalitário mais ou menos
confesso. Em particular o urbanismo progressista, cuja influência é
predominante, decorre em grande medida de modelos utópicos como os de Fourier,
veiculando uma ideologia anti-urbana, que confunde a distinção tradicional
entre espaço urbano e espaço rural. De modo que o urbanismo progressista
resulta paradoxalmente no que mesmo Marx preconiza, em nome de uma ideologia
anti-rural, a abolição da diferença entre cidade e campo e uma urbanização
generalizada deste último.
Os
resultados obtidos pelo urbanismo moderno são de um valor discutível, mas de
uma amplitude arrasadora: isto se deve não a uma suposta qualidade enquanto
ciência, mas às possibilidades geradas pelos meios técnicos que a civilização
industrial coloca à disposição dos arquitetos, dos engenheiros e dos
urbanistas. Graças a esses meios, o urbanismo progressista prossegue, ao menos
no Ocidente, a alojar decentemente os homens.
Mas
ele não prova que as vias utilizadas são as únicas nem as melhores. Elas constituem
em todo o caso uma negação e mesmo assassinato da cidade. Quanto ao espaço
rural, ele é simplesmente abandonado no percurso natural de uma urbanização
difusa, que em uma geração o descaracteriza com construções de rara
mediocridade. A salvação do que resta ainda das paisagens e dos sítios
constitui uma das tarefas prioritárias do urbanismo atual e futuro.
FACULDADE ASSIS GURGACZ – FAG Curso de
Arquitetura e Urbanismo. Disciplina de Planejamento Urbano e
Regional I Professoras Denise Schuler e Michele Sedrez
ATIVIDADE – Valor: 2,0 pontos
Faça um resumo do texto, abordando a gênese do urbanismo moderno, o
modelo progressista de urbanismo, o modelo urbanístico dominante, a volta
ao modelo mais tradicional da cidade e o problema do gigantismo urbano.
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