quarta-feira, 26 de junho de 2019

BREVE HISTÓRIA DO URBANISMO


Breve História do Urbanismo
Solange Irene Smolarek Dias
1 INTRODUÇÃO
O termo “urbanismo” é um neologismo inventado há mais de um século. Este significado designa uma realidade específica: o surgimento no final do séc. XIX de uma nova disciplina que se apresenta como uma ciência e uma teoria da cidade “distinguindo-se das artes urbanas anteriores pelo seu caráter reflexivo e crítico e pela sua pretensão científica”.
O termo “urbanismo” passou a englobar uma grande parte do que diz respeito a cidade, obras públicas, morfologia urbana, planos urbanos, práticas sociais e pensamento urbano, legislação e direito relativo a cidade.
O pensamento urbanístico moderno, é uma criação específica do espírito ocidental. É portanto essencial reconstituir a evolução do urbanismo ocidental, no final do qual nascerá o urbanismo moderno.
Há duas fontes intelectuais do urbanismo moderno, ambas da Renascença. A primeira é a De re Aedificatoria, de Alberti, que procura conceituar de maneira definitiva as regras racionais que propiciam uma criação harmoniosa, tanto de uma casa quanto de uma cidade. A segunda é A Utopia, de More, primeiro modelo espacial e ideológico completo de uma realidade futura.
Antes da afirmação de um discurso teórico autônomo que pretende fundar sob seu único domínio a realidade urbana, desenvolve-se no Ocidente uma longa fase preparatória. É só de maneira progressiva que uma parte da humanidade se distancia de uma visão do espaço urbano condicionada pela religião, pelo sagrado, por práticas e representações sociais que por sua vez está em conformidade com uma determinada concepção de mundo.
A antiguidade greco-romana contribui para amenizar os laços de dependência que ligam a religião à organização do espaço constituído. Na Idade Média, embora toda a sociedade esteja imersa num ambiente profundamente religioso, são as autoridades leigas que procuram estabelecer um domínio no espaço urbano. A partir da Renascença, os fundamentos urbanísticos autônomos se encontram colocados, mas a ruptura com o passado não está de fato consumada. Se a razão se impõe cada vez mais, a utopia está presente ainda nas portas das cidades.
É a Revolução Industrial que engendra o urbanismo moderno, provocando uma rejeição efetiva das concepções tradicionais da cidade e utilizando como recurso a utopia.
2 O URBANISMO DA ERA INDUSTRIAL - A Evolução Urbana nos Séculos XIX e XX
Se a população mundial aumenta prodigiosamente nos últimos dois séculos, o crescimento da população vivendo nas cidades é mais rápido ainda. Enquanto a população mundial quadruplica após 1850, a população urbana se multiplica por dez. Este grande inchaço é consequência dos progressos técnicos e científicos realizados a partir da metade do séc. XVIII.
É a Europa ocidental que desencadeia o processo, logo seguida e posteriormente ultrapassada pelos Estados Unidos
Nos países onde ocorre o progresso técnico, o aumento da produtividade do trabalho acarreta um aumento da produção global, o que possibilita o crescimento demográfico e a elevação do nível de vida.
Paralelamente, a estrutura da população ativa se transforma. Enquanto no início do séc. XIX todas as nações ocupam 80% de sua população no setor primário (agricultura), 8% no secundário (indústria) e 12% no terciário (serviços), assiste-se nos países industrializados a uma verdadeira fundição do primário em benefício do secundário e do terciário. Posteriormente, em função de um novo progresso da produtividade na indústria, o secundário diminui por sua vez em benefício do terciário, que é o grande beneficiário do desenvolvimento econômico. Assim, nos países desenvolvidos, um número restrito de agricultores (5 a 10%) é suficiente para alimentar o conjunto de habitantes. Ora, eles são 80% dois séculos antes. Isso significa que todos os excedentes, que exploram as terras menos rentáveis, são obrigados a partir. O êxodo rural transforma-os, mesmo a contragosto, em citadinos. O despovoamento do campo acarreta o aumento da população nas cidades.
A Gênese do Urbanismo Moderno
A Revolução Industrial, que nasce na Inglaterra, lança toda uma população operária nas cidades, que não estão preparadas para acolhê-las. Resulta uma proliferação de cortiços. As famílias operárias amontoam-se em locais estreitos e sem conforto em Lille, Liverpool e Manchester. Aos olhos dos contemporâneos, é toda a cidade que está doente. Balsac classifica Paris de “cancro“. Médicos, filantropos, sociólogos, economistas, romancistas, diante das epidemias e da delinquência, veem aí os frutos envenenados dos cortiços, as infeções de uma cidade má, acusada de corromper a raça humana, de destilar o vício e o crime.
Uma série de pensadores repudia a noção tradicional de cidade e elabora modelos que permitem reencontrar uma ordem perturbada pelo maquinismo. É desta pesquisa que nasce a principal corrente do urbanismo moderno, a corrente progressista.
A Corrente Progressista
Baseia-se numa concepção abstrata do homem, indivíduo mutável no tempo e no espaço. A ciência deve portanto permitir a definição exata de um modelo urbano perfeito que convenha a todo grupo humano.
Desde 1901 o arquiteto Tony Garnier elabora um plano da cidade industrial, onde se encontra quase tudo o que está na base do urbanismo atual. Os “arquitetos racionalistas” constituem, a partir de 1928 um movimento internacional (CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna). Em 1933 os arquitetos do CIAM elaboram um manifesto doutrinal: “A Carta de Atenas”. Verdadeiro catecismo do urbanismo progressista, este documento teve muitas ideias de Le Corbousier.
O urbanismo progressista é obcecado pela modernidade. A cidade do séc. X devia ser de seu tempo, afirmar a contemporaneidade de tudo aquilo que se traduz como o avanço da técnica: a indústria, o automóvel, o avião.
Há uma preocupação desvairada pela higiene, que se concretiza nas exigências de sol e verde.
A Carta de Atenas exige construções altas, afastadas umas das outras, isoladas no verde e na luz. Um outro teorema do urbanismo progressista é a abolição da rua, denunciada como anacrônica, barulhenta, perigosa, contrária aos imperativos de luminosidade e higiene. A Carta de Atenas exige que os imóveis sejam implantados longe dos fluxos de circulação.
O modelo progressista fundamenta-se na análise das funções urbanas acompanhadas de zoneamento: habitação, trabalho, lazer. A circulação é concebida como uma função distinta, independente em relação às edificações, com diferenciação de vias segundo velocidades.
O esquema urbano é concebido para o homem-padrão. Em qualquer lugar do mundo. Tanto para as grandes como para as pequenas cidades. Qualquer que seja o regime político ou o nível de desenvolvimento econômico. Deste volume de realizações surgem Chandigarh, a partir dos planos de Le Corbousier e Brasília, com planos de Niemeyer. Encomendados pelos presidentes Neru e Juscelino, respectivamente, constituem grandiosas manifestações do urbanismo e da estética progressistas.
Edifícios públicos gigantescos que dominam imensos espaços vazios constituem uma escultura urbana de inspiração cubista, à base de volumes geométricos simples. Em Brasília os bairros habitacionais não diferem muito dos conjuntos habitacionais de Singapura, Paris e Moscou.
As Dificuldades: O Urbanismo Contra a Cidade.
O modelo urbanístico dominante é hoje amplamente contestado. Paralelamente, a cidade saída do passado, contra a qual foram dirigidas as ironias e as ofensas do urbanismo progressista, é objeto de uma reabilitação que felizmente não é sempre póstuma.
Um urbanismo desumano. Esta é a principal crítica endereçada atualmente ao modelo dominante. Ë forçoso constatar essa recusa pelo usuário das cidades modernas e do sistema de valores que lhes é subjacente. Cada vez mais nossa sociedade recusa as caixas de habitação e o concreto que invade e que agride a cidade antiga e desnatura os espaços rurais.
Contudo, isto de certa forma é inevitável, devido a evolução econômica e demográfica. No pós guerra, na Europa, é necessário construir abundantemente em função das destruições, do crescimento demográfico e do êxodo rural que acompanhava o crescimento econômico e o progresso social. Volta-se para uma produção maciça de habitações sociais. Os grandes conjuntos habitacionais proliferam-se. Esse urbanismo, embora sob certo ponto de vista insatisfatório, ao menos assegura à grande massa da população o benefício das principais conquistas da técnica moderna tanto no sanitário quanto no econômico. Ë um grande resultado. Mas poder-se-ia ter adotado fórmulas de habitat mais humanas.
O emprego do concreto e de outros materiais modernos é inevitável. Jamais se construirá como no passado, em nome do qual nos regozijamos ou não. Os materiais e as técnicas modernas permitem um grande aumento da produtividade: a construção necessita de bem menos horas de trabalho humano que outrora. No mais, o metal e o concreto armado permitem alturas e cargas impossíveis para a pedra e a madeira. Esse aumento da produtividade é algo excelente, pois o trabalho humano é caro nas sociedades industriais, mesmo quando é pouco produtivo.
Se a produtividade na construção não tivesse aumentado nos últimos cem anos, não se pagaria aos operários como se paga atualmente. E, como o número de horas de trabalho necessárias para um dado edifício teria permanecido bastante elevado, a construção seria bem mais cara: viveríamos cinco em cada cômodo. Para subsistir nas sociedades industriais, a atividade da construção exige uma produtividade o mais alta possível. Esse imperativo proíbe praticamente em nossos dias o emprego de material tradicional, desuniforme, lento para separar, trabalhar e colocar no devido lugar.
A civilização dos cortadores de pedra e dos montadores de belos telhados está praticamente morta. Nós somos uma triste civilização de empilhadores de tijolos furados, de concreto de estruturas metálicas. Tal é o prêmio técnico, da nossa vida materialmente fácil e da nossa habitação decente.
Tudo isso está unido de maneira indissociável, e ninguém pode fazer nada, não mais os urbanistas e os arquitetos que o comum dos mortais. Não é o emprego do concreto que se deve censurar no urbanista progressista, mas o fato de ter erigido como dogma a superioridade estética intrínseca do concreto.
Sobretudo a grande culpabilidade do urbanismo progressista é de apresentar a cidade futurista, com seus imóveis coletivos gigantes, formigueiros extremamente confortáveis com inúmeras células habitacionais, como o lugar da felicidade perdida. De modo que quando chega a hora de construir bastante e depressa, arquitetos e urbanistas, impregnados da ideologia progressista, julgam normal e desejável a realização de grandes conjuntos. O grande pecado do urbanismo progressista é ter imposto o ideal não confesso de um universo kafkiano, à base de espaços desestruturados e de gigantescas “máquinas de habitar”, para homens-máquina.
De Volta a Uma Concepção Mais Tradicional da Cidade
A cidade volta a ser moda, a cidade verdadeira, com ruas de pedestres, lojas, oficinas. Desde 1961, a socióloga americana Jane Jacobs, analisando os prejuízos do urbanismo e da renovação urbana nos Estados Unidos, mostra que o abandono da rua acarreta o desaparecimento das principais vantagens da vida urbana: segurança, contato, formação das crianças, diversidade das relações. Ela acrescenta que a estrita aplicação do princípio do zoneamento esvazia durante o dia os bairros habitacionais: reina então um sentimento de tédio que reforça a padronização da arquitetura.
Quanto aos espaços verdes e terrenos circunvizinhos destinados a jogos nos conjuntos habitacionais, eles favorecem a delinquência de grupos adolescentes: lá eles encontram um espaço mais favorável que a rua para seus delitos, pois eliminam a vigilância dos adultos. J. Jacobs observa que nos bairros sem atração para o público, os parques não fazem mais que acentuar “o tédio, a insegurança e o vazio”. Para ela, o essencial é refazer as ruas, que ela deseja vivas, animadas, comerciais, locais de sociabilidade e de segurança. Suas ideias inspiram parcialmente a reordenação do centro de grandes cidades como Boston e Filadélfia.
Sociólogos e psiquiatras constatam que um bairro considerado deteriorado e insalubre pode revelar-se muito mais sadio socialmente do que um bairro renovado pelos urbanistas; é o que testemunham as estatísticas relativas aos distúrbios mentais, ao alcoolismo e à delinquência.
A abolição da rua e sua substituição por grandes espaços vazios se traduzem por uma certa desintegração mental dos habitantes, enquanto que uma forte estruturação do tecido urbano é, ao contrário, acompanhada de uma forte estruturação psíquica dos habitantes.
O modelo urbano progressista, com seus grandes conjuntos habitacionais e seus espaços livres pode, portanto, revelar-se favorável ao desenvolvimento da imoralidade. Se os bairros recentes respondem aos imperativos da higiene e da salubridade física, sua arquitetura e seu espaço desestruturado podem ser fonte de angústia, escondendo uma certa insalubridade psíquica.
A ideia de refazer as ruas ganha terreno a cada dia. “A cidade readquiriu coragem e passou a lutar. Fala-se novamente das ruas. Fala-se da vida citadina”. Mas isso supõe tornar bastante flexível as regras do zoneamento, que dissociam a função da habitação das demais funções urbanas. Senão, realizam-se somente ruas mortas de cidades-dormitórios. E antes mesmo de dar vida às ruas a tarefa mais urgente consiste em interromper a destruição das ruas existentes. Elas constituem um capital urbano que nos coloca na incapacidade de substituir por qualquer coisa da mesma qualidade.
Um Problema sem Solução: O Gigantismo Urbano
Poucos temas têm tanta repercussão em nossa época como o dos aspectos negativos das megalópoles; caráter inviável da grande cidade, problemas de circulação e de abastecimento, esgotamento nervoso dos habitantes, poluição, etc.
De fato, as grandes aglomerações urbanas gigantes do século X não possuem mais nada daquilo que no passado chamava-se cidade. Enquanto cidades como Nova Iorque, Londres ou Paris expandem-se na escala de uma região, outros agregados de zonas urbanas justapostas formam enormes conurbações, como a do Ruhr na Alemanha, ou da costa leste dos Estados Unidos, invadindo imensos territórios.
Todavia, no início do século, grandes cidades como Londres e Paris ocupam ainda um espaço relativamente limitado. Os seis milhões de habitantes da aglomeração londrina ocupam uma área num raio de 20 km ao redor do centro: os quatro milhões de habitantes de Paris e de seus subúrbios concentram-se num círculo de 20 km de diâmetro. Mas no período entre as duas guerras mundiais as duas capitais conhecem uma explosão espacial sem precedentes: em Londres assiste-se à triplicação do espaço urbanizado.
Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, as autoridades britânicas tomam plena consciência dos inconvenientes que representa a concentração num espaço limitado de uma grande parte da população e da infraestrutura industrial do país. Segundo as conclusões do relatório Barlow (1940) é adotada, logo após a 1ª guerra, uma política de descentralização industrial que se apoia na criação de cidades novas, tanto na região de Londres quanto em outras partes da Inglaterra. O “Plano da Grande Londres“ , elaborado por Sir Patrick Abercrombie, estabelece um cinturão verde ao redor da aglomeração existente e prevê a criação de oito cidades novas a aproximadamente 40 km da capital.
Nas últimas décadas do séc. X, há um prenúncio de crescimento desenfreado das metrópoles. No entanto, se as metrópoles da Europa Ocidental e da América do Norte apresentam ora inconvenientes inerentes à sua enormidade, elas são, por outro lado, o local de um alto nível de vida. Mas não ocorre o mesmo nas grandes cidades da maioria de outros países.
Na Moscou comunista, um quarto da população vivia em apartamentos exíguos, muitos deles possuindo apenas um banheiro e uma cozinha para várias famílias. Ë nos países do Terceiro Mundo que o gigantismo urbano se revela mais assustador. Sua característica particularmente desumana resulta do imenso crescimento demográfico do país onde a ciência e as técnicas médicas do Ocidente foram introduzidas artificialmente, rompendo o equilíbrio existente entre fecundidade e mortalidade “naturais “.
O aumento populacional segue uma progressão geométrica pois há o crescimento do número de nascimento e a queda da taxa de mortalidade. Contrariamente ao que se passou no Ocidente, o crescimento demográfico precede o progresso econômico, ao invés de acompanhá-lo. Foi necessário, “a posteriori “, suscitar a sobrevivência do excedente populacional.
A explosão urbana no terceiro mundo cresce assustadoramente. Caracas quintuplica sua população depois da Segunda Guerra mundial. Em São Paulo, Lima e na Cidade do México ela triplicou. Em Argel e Teerã a população triplicou e quadruplicou, respectivamente, nos últimos 20 anos do séc X. O Cairo, concebido para três ou quatro milhões de habitantes, conta aproximadamente com 10 milhões.
Menos ainda que as cidades europeias do séc. XIX, as cidades do Terceiro Mundo não conseguem acolher as massas humanas que para elas fluem. São rodeadas de imensos subúrbios feitos de favelas. Em Lima, 1/3 da população vive em favelas. Mesmo Brasília possui suas favelas.
Em algumas destas cidades gigantes não existe nem mesmo eliminação de esgoto e coleta de lixo. Os detritos acumulam-se na periferia em verdadeiras colinas sobre as quais vive um povo miserável de mendigos e das quais retiram sua subsistência. Trata-se, portanto, no final das contas, de uma situação bastante pior que aquela das grandes cidades ocidentais do séc. XIX. E os problemas se agravam ainda mais por alguns países não poderem ou não desejarem interromper seu absurdo crescimento demográfico.
Se na Índia, no Zaire ou no Brasil deixa-se a pequena cidade para se amontoar nas favelas, é porque existe diferença de nível entre as grandes cidades e o campo, totalmente incapaz de possibilitar a sobrevivência ao enorme excedente populacional. Apesar de sua miséria dramática, a cidade gigante do terceiro mundo é o local de esperança, onde talvez se tenha a chance de obter um emprego produtivo e, portanto, um salário.
3 CONCLUSÃO
Até a Revolução Industrial, apesar de uma evolução da imagem urbana, permanece válida a definição da cidade dada pela Enciclopédia : “Um conjunto de edifícios dispostos em ruas e cercados por um muro comum“.
Com a chegada do progresso técnico e da civilização industrial, essa visão tradicional é superada, multiplicando-se os problemas com os quais uma cidade se depara: crescimento demográfico, condições de habitação da população operária e, sobretudo, enriquecimento global da sociedade, que se traduz pelo fato de que cada um se beneficia com um espaço mínimo cada vez mais significativo, de objetos materiais cada vez mais numerosos e complexos e de uma quantidade crescente de prestações de serviços.
Desses novos problemas nasce o urbanismo moderno, que se pretende uma ciência, mas que é na realidade alimentado de utopias com caráter totalitário mais ou menos confesso. Em particular o urbanismo progressista, cuja influência é predominante, decorre em grande medida de modelos utópicos como os de Fourier, veiculando uma ideologia anti-urbana, que confunde a distinção tradicional entre espaço urbano e espaço rural. De modo que o urbanismo progressista resulta paradoxalmente no que mesmo Marx preconiza, em nome de uma ideologia anti-rural, a abolição da diferença entre cidade e campo e uma urbanização generalizada deste último.
Os resultados obtidos pelo urbanismo moderno são de um valor discutível, mas de uma amplitude arrasadora: isto se deve não a uma suposta qualidade enquanto ciência, mas às possibilidades geradas pelos meios técnicos que a civilização industrial coloca à disposição dos arquitetos, dos engenheiros e dos urbanistas. Graças a esses meios, o urbanismo progressista prossegue, ao menos no Ocidente, a alojar decentemente os homens.
Mas ele não prova que as vias utilizadas são as únicas nem as melhores. Elas constituem em todo o caso uma negação e mesmo assassinato da cidade. Quanto ao espaço rural, ele é simplesmente abandonado no percurso natural de uma urbanização difusa, que em uma geração o descaracteriza com construções de rara mediocridade. A salvação do que resta ainda das paisagens e dos sítios constitui uma das tarefas prioritárias do urbanismo atual e futuro.
FACULDADE ASSIS GURGACZ – FAG Curso de Arquitetura e Urbanismo. Disciplina de Planejamento Urbano e Regional I Professoras Denise Schuler e Michele Sedrez


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