Nós já sabemos que a
cidade capitalista é uma entidade socioespacial muito complexa. No entanto, nós
precisamos compreender como a cidade está estruturada internamente, ou seja,
para entender a cidade é preciso conhece-la por dentro, saber como ela se
estrutura.
Desse modo, para
entendermos detalhadamente a cidade, é necessário “nos debruçarmos sobre aquilo
que se chama de a organização interna da cidade, a qual é a chave para
chegarmos aos processos sociais que animam o núcleo urbano e que estão
envolvidos na dinâmica da produção do espaço, e que é, ao mesmo tempo, uma
chave privilegiada para observarmos e decifrarmos a sua complexidade enquanto
produto social” (SOUZA, 2003, p. 63).
Mas, o que seria essa organização interna da cidade?
Veja, qualquer cidade
possui diferentes tipos de espaços, de lugares, onde as pessoas vivem,
trabalham, realizam seus negócios, fazem suas compras, residem, divertem-se.
Assim, existem áreas no interior da cidade onde predomina claramente um determinado
tipo de atividade. No interior da cidade vamos encontrar áreas designadas para
determinadas atividades, o que chamamos de zoneamento urbano, ou seja, a
cidade é organizada pensando nas necessidades de uso dos seus habitantes.
A indústria, por exemplo,
toda cidade possui uma área destinada a instalação de fábricas e outras
atividades complementares, que estão intimamente vinculadas às atividades
industriais. Comumente, designamos esses espaços de distritos industriais.
Um exemplo interessante
é a indústria de montagem, como a automobilística, na zona do ABC, em São
Paulo. Essa indústria atrai para suas proximidades numerosas outras indústrias
de peças e componentes, como também, outros serviços que complementem a
atividade industrial.
Em outros espaços da
cidade, encontramos o comércio e os serviços. Esses espaços são denominados
pelos estudiosos sobre a questão urbana de localidades centrais intraurbanas.
Essa denominação refere-se a determinados lugares da cidade que possuem, no seu
conjunto, uma localidade dotada de maior ou menor centralidade em comparação
com outras localidades da cidade. Nossa existência no tempo nos é determinada,
mas temos ampla liberdade de escolha de nossa localização. Esta é influenciada,
embora não de todo, pelo nosso lugar de origem. Encontrar a localização correta
é essencial para uma vida de sucesso, também para um empreendimento de sucesso
e para um assentamento duradouro - em suma, para a sobrevivência do grupo.
Adicionalmente, uma localização adequada tem que ser a localização dos
acontecimentos certos. No espaço intraurbano vamos encontrar, às vezes, muitas
áreas que apresentam uma forte mistura de usos
do solo urbano, ou seja, uma localidade que é utilizada pela população como
espaço de moradia, trabalho, serviços e lazer (SOUZA, 2003).
Toda cidade possui um
centro. Observamos, no decorrer da história, que os centros das cidades têm
recebido diversas adjetivações: centro
tradicional, centro de negócios,
centro histórico, centro de mercado, centro principal ou simplesmente centro. O centro corresponde,
quase sempre, à área onde a cidade foi fundada e que abriga prédios, casarões,
igrejas, praças, monumentos antigos, ou seja, uma área onde se concentram
conjuntos arquitetônicos de grande valor histórico. Em um primeiro momento, foi
nessa área, a que denominamos centro, onde se desenvolvia a vida da cidade,
onde a população residia e estabelecia relações de vizinhança, participava da
vida política da cidade, onde os negócios eram realizados, ou seja, onde a vida
acontecia.
A noção de centro
urbano, como localização ótima para onde convergem os trajetos, as atividades
econômicas, o emprego, o abastecimento ou as ações particulares, definindo-o,
historicamente, como o lugar das trocas comerciais, conduz ao conceito de centro de mercado.
Quando agregamos ao
centro de mercado outras atividades urbanas, como a religiosa, a de lazer, a
política, a cultural, as atividades financeiras e as de comando, podemos
conceituá-lo de Centro de Negócios
(Central Business District – CBD) (VARGAS & CASTILHO, 2006). Esta visão
funcional do centro, atrelada à espacialização hierárquica das atividades
urbanas, dá origem aos conceitos de centros principais, subcentros, centros
regionais, centros locais, definidos pelos tipos de atividades oferecidas e
pelos seus raios de influência (VARGAS, 1985).
No entanto, quando a
expansão das áreas urbanas se intensifica de modo espontâneo ou planejado, esta
noção de Centro começa a enfraquecer-se, resultado do surgimento de novos
subcentros de comércio e serviços, que passam a concorrer com o Centro
Principal.
Podemos dizer, que na cidade capitalista, este processo foi,
sem dúvida nenhuma, um dos fatores que mais contribuíram para a aceleração do
processo de decadência e desvalorização dos centros urbanos. É preciso ter
claro, contudo, que esse quadro varia muito de acordo com o porte da cidade.
Uma cidade pequena, às vezes até uma cidade média, pode não conhecer a expansão
do seu centro, ficando as suas atividades limitadas ao centro antigo (SOUZA,
2003). Vários são os fatores que influenciam no desenvolvimento ou não do seu
centro como:
– o tamanho da cidade,
– sua inserção na rede
urbana regional,
– o tamanho da sua
população,
– a renda da população
e a distribuição dessa renda,
–
suas atividades econômicas e serviços que oferece.
Regina Celly Nogueira da Silva e Celênia de
Souto Macêdo. Pensando a cidade e o
urbano. Programa Universidade a Distância. UFRN/UFPB, 2009.
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