As cidades surgiram também na Mesopotâmia (região
entre os rios Eufrates e Tigre),
destacando-se Ur e Babilônia. Com o passar do tempo,
outras cidades surgiram, sempre próximas aos rios, porque estes fertilizavam a
terra e permitiam o abastecimento das cidades: Pequim e Hang-Chou, na China;
Mohenjo-Daro, na Índia e Tebas e Mênfis no Egito. Elas combinavam o poder
político e o religioso. Eram cidades abertas, sem muralhas, mas com uma
“cidadela” central, situada no alto de uma colina (função defensiva e simbólica
de domínio), onde se situavam palácio, templo e edifícios públicos.
Na Europa, duas civilizações, a grega e a romana,
tiveram nas cidades seus centros de poder, onde estavam a burocracia de estado
civil e militar. Na Grécia clássica, a mais sofisticada forma política foi a polis (cidade).
Representou um novo padrão de cidade-estado, de regime democrático, onde as
decisões eram tomadas na assembleia de cidadãos. O lugar da política era
separado da religião: a Ágora era o ponto de encontro, lugar da assembleia, do
mercado e do centro festivo; o Templo situava-se na Acrópole.
Na Península Itálica, surgiu e evoluiu a mais
importante cidade da Antiguidade: Roma, de onde partiram as tropas que
edificariam o maior dos impérios, o Império Romano. As fortificações romanas
deram origem a grande número de cidades, que facilitaram o domínio territorial.
As cidades romanas tinham como características:
templo de oração; anfiteatro para eventos; estádio para esporte; termas para
banhos públicos; vias pavimentadas e pontes de pedra; aquedutos para o
fornecimento de água potável; fórum (equivalente à ágora grega); domus (moradia
dos mais ricos em casas individuais) e insulae (moradia dos mais pobres em
habitações coletivas).
No século VII ocorreu a invasão árabe do norte da
África e sul da Europa, próximo ao Mediterrâneo. As cidades ocupadas
transformaram-se por força do islamismo, surgindo o que se denomina cidade
mulçumana, fruto de uma sociedade fechada e religiosa. Suas características são
ruas estreitas, tortuosas, formando labirinto, favorecendo a vida familiar. Para eles, a
cidade significava o local onde era possível cumprir, em toda a sua plenitude,
os deveres religiosos, morais e sociais, um local onde se pudesse adorar o Deus
Supremo, onde, cumprindo todas as exigências, se pudesse ler em paz o seu livro
sagrado e, principalmente, onde as ordens de Alá pudessem ser cumpridas, motivo
pelo qual elementos urbanos como teatros, auditórios, estádios, praças (no
sentido da ágora), fundamentais nas cidades europeias, aí praticamente
inexistem. O urbanismo muçulmano teve grande influência no traçado das
primeiras cidades brasileiras.
No século V, quando Roma caiu em função das
invasões germânicas, as cidades sofreram um grande abalo, pois a Europa se
"ruralizou", ao longo do período feudal. A Idade Média foi
fundamentalmente uma civilização rural. Por essa razão, as
cidades perderam sua importância. Limitavam-se a ser sedes de bispados e
reinados, num período no qual os reis praticamente não tinham poder político.
Durante o período medieval, não surgiram novas cidades e as antigas se
esvaziaram. As cidades medievais foram, na prática, simplesmente
fortificações para proteger igrejas, uma pequena população e alguns castelos.
Elas não tinham qualquer função urbana. Além disso, eram sujas, fétidas e
suas casas de madeira eram presas fáceis dos incêndios. Dizia-se que
qualquer viajante percebia estar próximo a uma cidade, pelo mau cheiro que
ela exalava.
Somente o capitalismo mercantil faria ressurgir o
fenômeno urbano. Fora dos muros dos castelos, foram se
aglomerando núcleos populacionais que viviam do comércio, fabricação de
equipamentos, prestação de serviços. Progressivamente, os senhores feudais
foram permitindo que esses núcleos ficassem livres, formando cidades
independentes, por meio da concessão de "cartas de
franquia". As cidades agora livres receberam diversas
denominações, conforme os países onde elas estavam situadas: na Alemanha eram
chamadas de burgos; na França, comunas; na
Itália eram denominadas de repúblicas e na Península
Ibérica existiam os conselhos. A
medida que o comércio foi se desenvolvendo, as cidades foram se espalhando por
toda a Europa. Importantíssimas foram as cidades comerciais da Itália,
principalmente Gênova e Veneza, onde surgiu uma próspera burguesia comercial e
financeira. Na Alemanha, Hamburgo era o centro de uma rede comercial que
chegava até a Rússia, rede esta conhecida pelo nome de Hansa Teutônica ou Liga
Hanseática. Na extremidade ocidental da Europa, onde se formou a rota
comercial de Champagne, proliferaram cidade sde
grande importância: Paris, Bruxelas, Antuérpia e Amsterdã, dentre outras.
O renascimento urbano, fruto do renascimento
comercial, foi sinal de que estava nascendo um novo regime de produção: o
capitalismo. O desenvolvimento das cidades, que passaram a ser os motores
do progresso, acelerou o êxodo rural: todo mundo queria morar nas cidades para
se libertar da dominação feudal. Um provérbio alemão da época dizia:
"o ar da cidade faz o homem livre". Pouco a pouco, as
cidades ficaram superpovoadas. O renascimento urbano teve também um impacto
cultural, com o desenvolvimentos da artes, nascimento da ciência e criação de
universidades.
A Revolução Industrial do século XVIII, que
concentrou a mão de obra das atividades fabris nas cidades, foi o
grande fator do desenvolvimento urbano. O capitalismo não criou as
cidades, surgidas ainda na Antiguidade, mas as tornou o centro das atividades
econômicas e culturais. Em função do capitalismo, as cidades
passaram a ter inúmeras funções: portuárias, comerciais, industriais, militares
e político-administrativas. Leia o texto abaixo com atenção:
"O resultado desse processo - a moderna unidade de produção, a
fábrica - é necessariamente um fenômeno urbano. Ela (a fábrica) exige,
em sua proximidade, a presença de um grande número de trabalhadores. O
seu grande volume de produção requer serviços de infraestrutura (transportes,
armazenamento de energia, etc.) que constituem o núcleo da moderna economia
urbana. Quando a fábrica não surge já na cidade, é a cidade que se
forma em volta dela. Mas é em ambos os casos uma cidade
diferente. Em contraste com a antiga cidade comercial, que impunha ao
campo seu domínio político, para explorá-lo mediante monopólios, a cidade industrial
se impões graças à sua superioridade produtiva. A burguesia industrial toma o
poder na cidade em nome do liberalismo e varre para fora do cenário
histórico a competição das formas arcaicas de exploração. O
capital comercial perde seus privilégios monopolísticos e acaba
se subordinando ao capital industrial (SINGER, Paul in
"Economia política da urbanização")
|
O
grande contingente de trabalhadores que surgiu fez nascer uma nova classe
social, o proletariado. Para abrigar essa nova classe de trabalhadores, foi
criado um novo modelo de complexo urbano, onde a fábrica era seu núcleo
principal formador, juntamente a um conjunto de estabelecimentos com intenção
de dar aporte aos novos bairros operários, que surgiram para abrigar a grande
demanda dessa mão-de-obra. Nas diferentes cidades europeias, os primeiros
bairros possuíam precárias condições para a vida humana, apresentavam grande
densidade, intenso aproveitamento do terreno e ausência de espaços livres e
pátios.
Na
primeira metade do século XIX, os problemas da cidade industrial aparecem de
forma grave e intolerável para a classe subalterna. Além da insalubridade, o
congestionamento do tráfego e a “feiura” passaram a ameaçar todas as outras
classes. As intervenções realizadas no espaço urbano recriaram o princípio de
divisão social do trabalho e as ideias de isolamento foram aplicadas no plano
urbanístico. Através de operações de saneamento, alargamento e abertura de ruas
e avenidas, renovação e modernização urbana implantou-se a segregação das
classes sociais no espaço da cidade. Os trabalhadores das fábricas foram
isolados em conjuntos periféricos, distantes da classe social abastada, que se
manteve nos espaços urbanos mais valorizados. Esta divisão social do espaço
urbano (segregação urbana) transparece nas cidades modernas: a cada espaço
corresponde um status – ou posição
social.
ATIVIDADE COM GABARITO
1.
Faça a
relação entre agricultura e surgimento das cidades.
O
surgimento das cidades só foi possível com a prática da agricultura, porque
antes disso as populações eram nômades, pois viviam da caça, pesca e coleta de
alimentos. Com a agricultura, as tribos puderam se fixar, sendo que o
desenvolvimento de técnicas agrícolas puderam gerar excedentes, os quais eram
comercializados, ocasionando assim a especialização desses aglomerados humanos
em comércio, serviços e fabricação de instrumentos, formando os núcleos que
mais tarde se tornaram cidades.
2.
Explique as
principais diferenças entre as cidades gregas e romanas.
As
cidades gregas eram governadas por um sistema democrático, onde o poder era
compartilhado pelos cidadãos. Portanto, não havia um poder central (rei). O
templo dos deuses ocupava a parte mais alta da área urbana e, na parte baixa,
havia a ágora, onde funcionava a assembleia dos cidadãos, os locais públicos de
lazer e as habitações. As cidades romanas tinham no centro a sede do poder
político (palácio) e militar, os edifícios públicos da administração e de lazer
(banhos, anfiteatro...). As habitações eram localizadas conforme a casta: domus (moradia dos mais ricos em casas individuais) e insulae (moradia
dos mais pobres em habitações coletivas)
3.
Explique as
transformações ocorridas nas cidades europeias após a queda de Roma.
Com
a invasão das tribos bárbaras, vindas do norte da Europa, as cidades romanas
tornaram-se perigosas, alvos permanentes de ataques, o que levou a população a deixá-las.
Os mais abastados ergueram castelos para se protegerem por detrás de seus
muros. Uma parte da população, portanto, passou a viver dentro dos castelos, prestando
serviços aos seus donos, e outra parte vivia foram dos castelos. Houve,
portanto, um processo de ruralização, com a decadência das cidades.
4.
Relacione
capitalismo e renascimento urbano.
No
final da Idade Média houve um renascimento comercial, principalmente com as
Cruzadas. Rotas de comércio foram abertas em diversas partes da Europa. A população
que residia fora dos castelos ampliou-se, dando origem aos burgos (cidades em
torno dos castelos). Ali surgiu uma nova classe social, os burgueses, que eram
comerciantes que acumularam riquezas, investindo-a na ampliação de seus
negócios. Este sistema econômico baseava-se, portanto, no acúmulo de capital e
no lucro dele advindo, ao contrário do sistema que entrou em decadência, o
feudalismo, baseado na posse da terra e na servidão. A concentração de dinheiro
nas mãos dos burgueses e a oportunidade de trabalho e de negócios atraíram as
pessoas do meio rural, desenvolvendo as cidades.
5.
O surgimento
do proletariado levou à criação de um novo modelo urbano. Explique-o.
Os
trabalhadores das fábricas constituíram uma nova classe social, o proletariado,
constituída de assalariados, destituídos de propriedade, a não ser a sua força
de trabalho. Sua condição social baixa levou-os a se fixarem próximos às
fábricas, em bairros sujos, fétidos, com péssimas moradias e alta densidade
populacional. Esses bairros geralmente ficavam na periferia das cidades, longe
dos locais de moradia dos mais abastados. É um modelo urbano segregador das
classes sociais.