A sociedade de consumo é um produto do qual o
capitalismo contemporâneo assume responsabilidade sob a lógica de operação do
capital. Para o desenvolvimento da atual sociedade burguesa é necessário
submeter-se aos imperativos da economia capitalista, onde a imagem
(representação imaterial do objeto), a partir da publicidade e o marketing[1],
invadem a esfera da mercadoria e agrega outros valores ao produto – o valor
subjetivista.
O Marketing é uma prática baseada em
diferenças, e quanto maior elas forem tanto mais intensas serão as suas formas
de incidência sobre a subjetividade do indivíduo. O marketing pós-moderno
reconhece a diferença de cada mercadoria e de cada segmento da população,
elaborando suas estratégias apropriadamente. Toda diferença é uma oportunidade.
As práticas de marketing e publicidade
incidem sobre a esfera do consumo e transformam imagens em mercadorias. Assim, o
busca-se a celebração do fetichismo e de simulacros na busca contínua pela
novidade, pela satisfação, com o objetivo de eficiência, lucratividade e
acumulação de capitais.
A partir da segunda metade do Século XX, nada
(um objeto, um indivíduo, um grupo social) possui valor a não ser através de
sua duplicata: a imagem publicitária que lhe atribui uma auréola. Esta imagem duplica não apenas
a materialidade sensível do objeto, mas avança também sobre o imaginário. Ela
traz uma pseudofelicidade, isto é, a satisfação ilusória do consumidor. A
publicidade destinada a suscitar o consumo de bens torna-se assim o primeiro
dos bens de consumo.
A imagem passa a atuar diretamente sobre os
indivíduos, a serviço dos capitalistas, como consumidores, no sentido criar o
novo, novos arquétipos ou símbolos que estes devem adotar. Sobre esse conjunto
de informação que as pessoas passam a constituir as pseudonecessidades que
levam a uma artificialização da vida. É, neste contexto, que a sociedade
contemporânea constrói seus alicerces e se baseia em falsas ideias. A
interpenetração das lógicas capitalistas, por meio das imagens fabricadas, na
sociedade, se faz no cotidiano do sujeito e dá lugar ao consumo como norteador
da vida. Este elemento esconde o mundo real da sociedade e a coloca sob um
universo de certezas positivas que contaminam toda a coletividade sem distinção
de classes.
Os indivíduos, desta sociedade, são
anestesiados sobre um processo de personalização imposto pelas lógicas
capitalistas. Definem-se por não adotar um único sistema de referência.
Conflitam-se os mais íntimos desejos. E misturam às vontades de modo a
praticarem um ritual antropofágico de subjetivação sobre os sentidos. O
reconhecimento do sujeito como sujeito vem através do universo linguístico, o
qual é criado pelo sistema capitalista.
Na “sociedade de consumo”, as relações
pessoais são mediatizadas pelo sistema de signos, e fazem os indivíduos
desejarem desprezar suas qualidades pessoais e sua idiossincrasia para se
igualar aos outros e demonstrar adesão ao código socialmente construído.
Os consumidores, nesta sociedade, acabam por
aceitar a proposta oferecida deste universo subjetivo de forma passiva, que os
tornam compradores em potencial, e ajudam as empresas a definirem suas
territorialidades, ou melhor, criam para as empresas suas territorialidades.
Para manter esse objetivo as empresas lançam estratégias das mais diversas para
garantir a persuasão ao espírito do sujeito.
O habitante do mundo capitalista
contemporâneo é atravessado por todo uma rede de informação de aparência
desejante, econômica, política, cultural, afetiva que o convida a experimentar
a composição de todas elas, de algumas delas, de somente uma delas, de nenhuma
delas, sob um movimento ágil e veloz de mudanças.
As sociedades contemporâneas são marcadas por
um processo contínuo de aceleração onde os produtos se tornam rapidamente
obsoletos. O capitalismo contemporâneo permite que as empresas levem ao sujeito
da sociedade de consumo informações suscetíveis de atrapalhar, embaralhar e
perturbar a opinião e assim possam vender as mercadorias.
Assim, a sociedade atual passa por um
constante processo de abundância. Este processo contribui para que a pulsão,
que controla nossos desejos, se limite ao campo do consumo. A sociedade não
percebe que o mecanismo manipulado pelo capital esvazia de sentido as relações
humanas e anestesia o sujeito frente à violência real da ordem social.
Este texto foi extraído
e modificado de:
COSTA,
Pedro Henrique Ferreira y GODOY, Paulo Roberto Teixeira de. O capitalismo
contemporâneo e as mudanças no mundo do consumo. Diez años de cambios en el Mundo, en la
Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas del X Coloquio
Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de
2008.<http://www.ub.es/geocrit/-xcol/330.htm>
ATIVIDADES
- Qual o papel do marketing na sociedade capitalista?
O papel do marketing é
criar necessidades e desejos, isto é, transformar os indivíduos em consumidores
de produtos, sejam materiais ou imateriais, assim alimentação a produção e
possibilitando o acúmulo de riquezas dos detentores do capital.
- Caracterize a expressão sociedade capitalista.
Refere-se a uma
sociedade baseada no direito à propriedade privada, que é predominante; na
livre iniciativa dos negócios e com pouca intervenção do Estado na economia; na
relação capital/trabalho, onde o capital está nas mãos de empresas privadas que
contratam trabalhadores em troca de salário; no uso do capital com fins de
lucro e acumulação de riquezas e na economia de livre mercado, em que os bens e
serviços são distribuídos de acordo com a lei da oferta e demanda.
- Explique a afirmação do autor: “A sociedade não percebe
que o mecanismo manipulado pelo capital esvazia de sentido as relações humanas
e anestesia o sujeito frente à violência real da ordem social.”
Ao estimular desejos e
criar necessidades ilusórias, o marketing confunde e perturba os indivíduos,
manipulando os seus desejos em um processo de alienação. Transformados em
consumidores de produtos e serviços muitas vezes supérfluos, esses indivíduos
não percebem suas reais necessidades e as necessidades e problemas da sociedade
em que vivem, tais como a pobreza e miséria de muitos, o desemprego, a
degradação social e ambiental e a crescente desigualdade socioeconômica. O indivíduo passa alheio a essas situações e foca apenas o seu desejo de consumo, numa atitude individualista que degrada as relações humanas.
- O texto utiliza o prefixo pseudo para falar em
necessidade e felicidade. Explique a intenção do autor.
O termo pseudo significa
literalmente “mentira” ou “falsidade”. O autor se vale deste termo para afirmar
que as necessidades criadas pelo marketing são falsas, não têm a ver com aquilo
que o indivíduo realmente precisa, mas sim a desejar algo, deixando-o em estado
de carência enquanto o consumidor não o adquire.
Da mesma forma, o
marketing leva o indivíduo a acreditar que a felicidade está no consumo daquilo
que se deseja; isto é, que a felicidade vem de fora, pode estar naquilo que se
pode adquirir, e não em um estado interior de paz e harmonia. Assim, por
exemplo, transforma-se Natal em presentes, Dia das Mães em presentes, e qualquer
dia só pode ser celebrado com mercadorias. Indivíduos infelizes são levados
pelo marketing a acreditar que seu vazio interior, suas dores e tristezas podem
ser eliminados pela aquisição de um produto que lhe confere status, mas logo que o adquirem constatam
que a infelicidade permanece; portanto, o que se conquistou foi apenas uma
pseudofelicidade.
[1] A publicidade, o marketing e a mídia, de
uma forma geral, transformaram-se nas grandes vilãs da sociedade, diversos
autores apontam estes meios como os grandes colaboradores do distanciamento da
realidade. Porém, faço uma pausa para uma reflexão. É possível servir-se destes
mecanismos de forma a libertar o sujeito do enclausuramento em vez de nos
rendermos às forças centralizadoras de sentido? Então, acreditamos que estas
ferramentas, da sociedade contemporânea, não produza esse efeito sozinha e o
que as condena é o sistema em que estão sendo utilizados.
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