sexta-feira, 3 de maio de 2019

ECONOMIA, NATUREZA E SOCIEDADE


A economia e a questão ambiental são interdependentes. Encontrar o justo equilíbrio entre a economia e o meio ambiente é a principal questão em debate no mundo atual.

Marcia McNutty, editora-chefe da revista americana Science, resumiu assim a situação:
“enfrentamos uma ameaça global de longo prazo, que está aumentando lentamente, mas duradoura, para o fornecimento de alimentos, saúde, serviços ecossistêmicos e a viabilidade geral do planeta para sustentar uma população de mais de 7 bilhões de pessoas ... O tempo para o debate terminou. A ação é urgentemente necessária.” (McNUTTY, 2015, p. 7).

Crescimento econômico e sustentabilidade

O crescimento econômico brasileiro baseia-se na exploração predatória dos recursos naturais, economia voltada para o mercado externo e concentração de renda.

Consequências do modelo de crescimento econômico:
      uso insustentável de recursos não renováveis,
      destruição da diversidade biológica e
      emissão de gases de efeito estufa.

O processo de globalização renova disparidades e cria novas desigualdades, submetendo o País à condição de exportador de commodities e mercado aberto aos bens de industrializados e de alta tecnologia os países mais avançados.

[...] “a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas.” (Milton Santos)

Aprofundam-se os problemas ecológicos, econômicos e sociais que exigem repensar o desenvolvimento à luz dos limites impostos pela própria natureza. Está cada vez mais difícil conciliar crescimento econômico, bem-estar social e sustentabilidade ambiental.

As grandes dúvidas que surgem com relação ao progresso humano recente podem ser resumidas em dois tipos:
  A  humanidade vai conseguir continuar nessa mesma trilha de progresso indefinidamente?
      Este progresso poderá ser estendido para toda a população mundial?

O crescimento econômico

Antes da Revolução Industrial e Energética, ocorrida no final do século 18, o crescimento econômico e demográfico do mundo era lento. Porém, entre 1900 e 2000, o PIB global cresceu 18,6 vezes, a população ampliou-se em 3,9 vezes e a renda per capita mundial aumentou 4,8 vezes.

As maiores taxas de crescimento ocorreram entre 1950 e 1973, período que corresponde à recuperação pós-Segunda Guerra Mundial e pré-crise do petróleo.


O crescimento econômico tem sido a base das melhorias materiais obtidas pela humanidade desde a Revolução Industrial. Por outro lado, esse modelo exige um aumento constante da produção, o qual é alimentado pela cultura de consumo, cujos valores já são profundamente arraigados e dificilmente serão alterados.

Freio ao crescimento econômico

Desde 2013, o termo “estagnação secular” entrou em evidência, significando que a economia mundial deve entrar em um longo período de baixo crescimento econômico.

O baixo desempenho dos países desenvolvidos contamina as economias dos países emergentes (em desenvolvimento).Os países em desenvolvimento estão enfrentando uma difícil transição, com os custos de empréstimos mais elevados e preços mais baixos para o petróleo e outras commodities.
De acordo com o FMI (2015), o endividamento das empresas dos países de mercados emergentes passou de US$ 4 para US$ 18 trilhões entre 2004 e 2014. Na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), a fatia da dívida subiu 26 pontos percentuais.

Limitações ao crescimento econômico brasileiro
      Esgotamento da base ecológica.
      Diminuição da População Economicamente Ativa (PEA).
      Envelhecimento populacional.
      Diminuição do crescimento demográfico.
      Aumento no longo prazo do preço da energia e dos alimentos.
      Crescentes problemas ambientais.
      Crescente processo de endividamento que dificulta manter a capacidade de investimento e inovação do progresso técnico.
      Os postulados essenciais da política econômica e até mesmo da política social são importados como um pacote fechado; há desinteresse pela questão nacional; são fracas as manifestações de cidadania.

Dois pontos de vista sobre a crise do capitalismo (sociedade de consumo):
  1. O consumo e o aumento constante de produção são viáveis, porque a tecnologia e a inventividade humana podem superar os limites da natureza e o desenvolvimento pode manter taxas de crescimento por um longo prazo.
  2. O mundo deverá repensar seu modelo de civilização baseado no consumo e no aumento constante da produção.
Desigualdades Sociais no Brasil

O diagnóstico básico referente à estrutura da pobreza é o de que o Brasil não é um país pobre, mas um país extremamente injusto e desigual, com muitos pobres. A desigualdade encontra-se na origem da pobreza e combatê-la torna-se um imperativo. Um projeto de sociedade desenvolvida e harmônica deve combinar democracia com eficiência econômica e justiça social.

O Brasil tem farta disponibilidade de recursos para combater a pobreza. A sociedade brasileira não enfrenta problemas de escassez, absoluta ou relativa, de recursos para erradicar o seu atual nível de pobreza.

A desigualdade no Brasil surpreende tanto por sua intensidade como por sua estabilidade, pois se mantém inerte, resistindo às mudanças estruturais e conjunturais das últimas décadas. Elas atravessaram o regime militar, governos democraticamente eleitos e incontáveis laboratórios de política econômica, além de diversas crises políticas, econômicas e internacionais.
Vias de redução da pobreza

Para reduzir a desigualdade e erradicar a pobreza, as políticas socioeconômicas têm reforçado a via única do crescimento econômico, sem gerar resultados satisfatórios.

É importante estimular políticas de crescimento para alimentar a dinâmica econômica e social do país, distribuir as riquezas com vistas à equidade, mas sem dilapidar os recursos ambientais.
Portanto, deve haver combinação entre políticas de crescimento econômico,  políticas de redução da desigualdade e de proteção ao meio ambiente.

O crescimento econômico, evidentemente, representa uma via importante, apesar de lenta, para combater a pobreza. Um crescimento de 3% ao ano na renda per capita, por exemplo, tende a reduzir a pobreza em aproximadamente um ponto percentual a cada dois anos. Ou ainda, um crescimento contínuo e sustentado de 3% ao ano na renda per capita levaria, no Brasil, mais de 25 anos para reduzir a proporção de pobres abaixo de 15%.

Assim, embora conduza a uma redução da pobreza, a via do crescimento econômico necessita um longo período para produzir uma transformação relevante na magnitude da pobreza. O que se tem observado entre os países em desenvolvimento é que a pobreza reage com maior sensibilidade aos esforços de aumento da equidade do que aos de aumento do crescimento econômico.

Texto extraído e modificado de:

MARTINE, G. e ALVES, J.E.D. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21. R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v.32, n.3, p.433-460, set./dez. 2015.

SANTOS, Milton. O Brasil da Globalização. Obtido em: http://pessoal.educacional.com.br/up/4770001/1306260/t1311.asp.

BARROS, R.; HENRIQUES, R. e MENDONÇA, R. Desigualdade e pobreza no Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável. Revista Brasileira de Ciências Sociais - v.15, n.42, fev/2000.

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